Em entrevista ao programa Contraponto – A Voz do Povo, da Rádio Cultura, o arquiteto e urbanista Alexandre Baltazar afirmou que Foz do Iguaçu vive há décadas um cenário de grande potencial urbano, mas com baixa capacidade de transformar projetos estruturantes em realidade. Ele destacou que a cidade possui legislação avançada, universidades com profissionais qualificados e condições para desenvolver grandes intervenções, mas ainda carece de governança, planejamento contínuo e consenso entre lideranças.
Baltazar explicou que as Operações Urbanas Consorciadas (OUC), previstas no Estatuto da Cidade e regulamentadas no plano diretor de municípios com mais de 20 mil habitantes, são fundamentais para viabilizar a reurbanização sem depender exclusivamente de recursos públicos. A cidade tem legislação aprovada desde 2009, porém nenhuma operação foi executada. Ele citou os CEPACs, certificados que permitem que a iniciativa privada financie melhorias como calçadas, iluminação e cabeamento subterrâneo, como exemplo de instrumento capaz de destravar projetos urbanos sem onerar o orçamento municipal.
A situação da Vila Portes foi apontada como caso emblemático. Segundo ele, o bairro sofre com a degradação da área de beira-rio e com o vazio urbano noturno, já que lojas fecham cedo, deixando ruas desertas. Uma revitalização que transforme praças em parques urbanos e organize o uso da orla poderia atrair hotéis, novos comércios e investidores — mas isso depende de um projeto público claro. “O investidor só chega quando enxerga planejamento”, afirmou.
O arquiteto comparou Foz a cidades como Maringá, Londrina e Cascavel, onde a população participa das decisões públicas, os parques são valorizados e há cultura de continuidade administrativa. Em Foz, diz ele, a baixa participação política e o histórico de identidade fragmentada — marcada por mais de 80 etnias e décadas de migração de passagem — dificultam a apropriação dos espaços públicos e o engajamento da comunidade. “Foz tem tribos que não conversam entre si: turismo, logística, academia, ambientalistas, empresários. Falta coesão”, observou.
Baltazar também comentou a possibilidade de o novo hospital estadual ser instalado na Vila Portes. Para ele, a presença de um equipamento desse porte pode reurbanizar todo o entorno, desde que estrategicamente posicionado. Ele lembrou que o Hospital Municipal, apesar de sua importância, não cumpriu esse papel de induzir desenvolvimento urbano ao redor.
Um exemplo é o projeto Beira Foz, elaborado pelo Ministério da Justiça. Ainda na fase de estudos, a simples divulgação da proposta atraiu investidores, como empresários estrangeiros interessados em hotel-cassino e construtoras de Curitiba buscando áreas para revitalização. “Quando o poder público dá um passo, a iniciativa privada dá dez”, reforçou.
Apesar das dificuldades, Baltazar se mantém otimista. Morador de Foz desde 1995, ele lembrou que a cidade já foi marcada por altos índices de violência e forte contrabando, mas viveu transformações profundas com o avanço do turismo, a expansão universitária e o desenvolvimento logístico. Para ele, o próximo passo depende de um pacto urbano mínimo entre instituições e lideranças.
Ele defende iniciar um projeto-piloto de OUC — como no Parque Monjolo — reunindo ambientalistas, empresários, moradores, academia e poder público. “Foz tem potencial e profissionais capacitados. Falta governança, continuidade e coragem para começar. Às vezes precisamos de um projeto bem executado para mudar a história da cidade”, concluiu.






















































