A violência voltou a acender o sinal de alerta em Foz do Iguaçu. Em um intervalo de menos de 72 horas, entre os dias 29 de novembro e 1º de dezembro, seis mortes violentas foram registradas no município — duas delas na região da Vila Brás — ampliando a sensação de insegurança entre moradores. O cenário preocupa também pelas estatísticas oficiais: dados da Secretaria da Segurança Pública do Paraná mostram que a cidade contabilizou 43 homicídios dolosos entre janeiro e setembro de 2025, com projeções que apontam para quase 50 casos nos dez primeiros meses do ano. Em 2024, foram 60 assassinatos.
No ranking estadual, Foz ocupa hoje a segunda posição entre as cidades mais violentas, atrás apenas de Curitiba, que somou 118 homicídios até setembro. Cascavel (36) e Paranaguá (35) aparecem na sequência. O mês mais crítico foi março, com oito assassinatos, e episódios recentes como o triplo homicídio na Comunidade da Brás e o assassinato de Zarhará Hussein Tormos, de 25 anos, reforçam a gravidade da situação. Segundo as investigações, muitos desses crimes são motivados por disputas internas, tráfico de drogas, brigas e acertos de contas, com predominância do uso de armas de fogo.
PM identifica padrão entre vítimas e aponta novas modalidades de crime
O comandante do 14º Batalhão da Polícia Militar, major Eliseu Gonçalves, afirmou em entrevista à Rádio Cultura que uma parcela significativa dos homicídios na cidade é direcionada a pessoas envolvidas com o crime organizado. A avaliação reforça a tese de que parte das mortes decorre de conflitos internos entre grupos rivais.
Além dos assassinatos, a PM observa crescimento de ocorrências associadas a outras modalidades criminosas que impactam diretamente moradores, turistas e viajantes. Entre elas estão os roubos cometidos contra compristas, principalmente na rota das cidades paraguaias, além de arrombamentos em residências e a atuação de quadrilhas classificadas como piratas do asfalto, que miram veículos e cargas na região da fronteira.
Segundo Gonçalves, o batalhão tem buscado oferecer resposta rápida a essas ocorrências e vem reforçando operações que resultaram em recuperações de veículos, apreensões de armas e drogas, e cumprimento de mandados judiciais. Ele afirma que o volume de resultados demonstra capacidade de reação, apesar dos desafios impostos pela criminalidade na fronteira.
Integração entre forças e três frentes prioritárias de atuação
Para o comandante, o enfrentamento à violência em Foz exige uma atuação integrada entre diferentes órgãos. O 14º BPM participa de forma ativa da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (FICO), que reúne Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal, Exército, Guarda Municipal e órgãos de inteligência. Quando necessário, ações conjuntas também são realizadas com autoridades da Argentina e do Paraguai.
Essa articulação é fundamental, segundo o major, porque Foz possui “três realidades simultâneas”: o dia a dia da população local, o turismo e a dinâmica própria da fronteira. Por isso, o batalhão trabalha com três frentes estratégicas: o policiamento nos bairros, com foco no atendimento direto à comunidade; a segurança nas áreas turísticas, como Cataratas, Itaipu e centros comerciais; e o combate aos crimes transfronteiriços, incluindo contrabando, descaminho e tráfico.
Gonçalves ressaltou ainda que segurança pública não depende exclusivamente de policiamento. Para ele, políticas de urbanização, saneamento, geração de renda e melhoria das condições de vida são essenciais para reduzir fatores que alimentam a criminalidade.
Reforço no efetivo, qualificação e novas exigências para 2026
Para ampliar a capacidade de atuação, o 14º BPM está formando duas novas turmas de policiais, com tendência de que os profissionais permaneçam na cidade após a formação. A partir de 2026, mudanças na legislação da corporação exigirão que soldados possuam ensino superior, enquanto oficiais deverão ser bacharéis em Direito, transformando a carreira policial militar em uma trajetória de caráter jurídico. Para o comandante, a mudança representa uma tropa mais qualificada e preparada para os desafios de uma região de fronteira.
Operações aéreas e emprego crescente de tecnologia
O major também destacou o apoio de aeronaves do BPMOA, que atuaram recentemente durante a Black Friday e em operações estratégicas na região. No entanto, para que Foz tenha um helicóptero fixo, seria necessário construir estrutura própria — algo que ainda não existe. O governo estadual discute transformar o BPMOA em um Comando Militar de Operações Aéreas, o que poderia aumentar a presença de aeronaves no Oeste do Paraná.
Outra aposta crescente é o uso de drones. O 14º BPM já possui equipamentos e tem ampliado a formação de operadores. Foz, inclusive, sediou recentemente um evento nacional sobre o tema. A expectativa é que os drones se tornem cada vez mais presentes em operações, monitoramento de áreas sensíveis e ações de prevenção.
Desafios persistem, mas integração e tecnologia fortalecem reação
Apesar do aumento dos índices de violência, o major Eliseu afirma que as forças de segurança têm conseguido dar respostas rápidas e qualificar o enfrentamento ao crime. Para ele, o contexto de Foz do Iguaçu exige um modelo de segurança baseado em integração, inteligência e ações contínuas.
“Foz do Iguaçu é uma cidade complexa, com fronteira internacional, fluxo intenso de turistas e dinâmicas criminais próprias. Por isso, segurança pública aqui precisa ser articulada, tecnológica e permanente”, afirmou.



















































