Aplicativo “Cuida de Mim” propõe proteção preventiva e rápida em situações de risco

Criado por Raiza Rocha após experiência pessoal, app oferece botão SOS e monitoramento com rota e horário programados para agir antes da emergência.

Diante do aumento da sensação de insegurança e do medo constante que acompanha sobretudo mulheres ao sair de casa, o aplicativo Cuida de Mim surge como uma proposta de monitoramento preventivo e resposta rápida em situações de risco. A iniciativa foi criada pela empreendedora Raiza Rocha, diretora-executiva e cofundadora da plataforma, que transformou uma experiência pessoal de vulnerabilidade em um serviço pensado para salvar vidas. “Eu vivia sozinha e não tinha rede de apoio. Caso como o de Zarhará e tantos outros desaparecimentos mostraram que esperar socorro por horas é cruel”, afirma.

A solução, que contou com o apoio do Itaipu Parquetec, nasceu após a equipe identificar que muitas pessoas enfrentam demora de uma a duas horas, ou sequer recebem retorno, após acionar a polícia. Em conversas com a Assistência Social, Casa-Abrigo e CRAM, Raiza confirmou que a limitação de efetivo e a alta demanda comprometem o atendimento imediato. O aplicativo, então, foi desenhado para atuar como complemento à segurança pública, oferecendo dois recursos principais: o botão SOS, para emergências, e o botão “Cuida de Mim”, que ativa um protocolo de monitoramento com horário e rota programados. Caso o usuário não confirme segurança, uma central tenta contato e, se necessário, aciona familiares, a Polícia Militar e fiscais de segurança privada.

Um dos diferenciais do Cuida de Mim é o respeito à privacidade. O aplicativo não permite que familiares ou parceiros rastreiem o usuário sem consentimento. “Não queremos reproduzir controle ou vigilância. Quem decide ser monitorado é sempre a pessoa que está se deslocando”, explica Raiza. A plataforma também foi estruturada para ter baixo custo inicial: o plano individual custa R$ 39,90, e o familiar R$ 99,90. O envio de fiscal privado só é cobrado se houver necessidade, ao valor de R$ 49,90 em Foz do Iguaçu.

A empreendedora enfatiza que a tecnologia também é uma resposta à falta de políticas públicas voltadas à proteção feminina. Ela critica, por exemplo, o modelo das tornozeleiras eletrônicas que liberam o agressor e restringem a vítima. “A mulher continua refém do medo e da demora do socorro. Nosso objetivo é preencher justamente essa lacuna.” Para ampliar o acesso, a empresa está formalizando um Termo de Cooperação Técnica com a Casa-Abrigo, permitindo que mulheres em situação de vulnerabilidade extrema utilizem o app gratuitamente durante o processo de desacolhimento. Há também conversas com vereadoras e órgãos municipais para financiar o serviço a usuárias do CRAM.

O aplicativo já começa a se expandir para outras cidades, com negociações em andamento em Cascavel e Toledo, além de parcerias com hotéis para garantir proteção a turistas. A meta é ambiciosa: alcançar todo o Paraná até o fim de 2026 e o Brasil até 2027. Regiões de fronteira ainda representam desafios, já que fiscais não podem atuar no Paraguai ou Argentina; nesses casos, o app monitora, mas não aciona equipes privadas. A fase futura inclui dispositivos de pulso independentes do celular, ampliando a precisão do acompanhamento.

Para Raiza Rocha, o avanço do aplicativo demonstra que a tecnologia pode ser uma aliada poderosa na construção de uma rede de proteção mais humana, eficiente e segura. Ela destaca que o objetivo central do Cuida de Mim é romper o ciclo de violência por meio de informação qualificada, apoio imediato e ferramentas que incentivem a autonomia das vítimas. A diretora-executiva salienta que a plataforma continuará evoluindo, incorporando novos recursos e ampliando parcerias com órgãos públicos e organizações da sociedade civil, para que cada vez mais pessoas possam acessar ajuda antes que a violência se agrave.

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