A reunião realizada na noite desta quinta-feira (16) na Câmara Municipal de Foz do Iguaçu, convocada pela Comissão de Educação, terminou com insatisfação entre professores e diretores da rede municipal. A secretária de Educação, Silvana Garcia, foi chamada para prestar esclarecimentos sobre as críticas feitas por profissionais da área, que cobram mais diálogo com a gestão, metas do IDEB realistas e reforço no quadro de servidores, especialmente psicólogos e professores de apoio.
Durante a sessão, que lotou o plenário da Câmara, a vereadora Yasmin Hachem, integrante da Comissão de Educação, afirmou que o encontro foi importante para reunir e apresentar os questionamentos recebidos de toda a comunidade escolar, mas lamentou que as respostas da secretária não tenham atendido às expectativas.
“Não estamos satisfeitas com as respostas, mas sim com a condução dos trabalhos. Reunimos perguntas enviadas por professores, diretores, servidores e até pais de alunos. Porém, muitas respostas foram vagas e destoaram da realidade relatada pela rede. A reação do público mostrava isso claramente”, declarou.
Yasmin também informou que a Comissão deve propor a suspensão de efeitos de decretos municipais relacionados à educação, considerados prejudiciais à gestão das escolas. Além disso, algumas situações serão encaminhadas ao Ministério Público e ao Judiciário para apuração.
“Vamos apresentar projetos para revogar decretos que embasam decisões equivocadas da Secretaria. Também encaminharemos ao Ministério Público as questões que extrapolam a competência administrativa, porque percebemos irregularidades que precisam de providências”, afirmou a vereadora.
Entre os temas levantados, os diretores reclamaram da falta de diálogo e de metas inatingíveis do IDEB. A diretora Janaína Proença, da Escola João da Costa Viana, afirmou que as metas foram definidas sem consulta às escolas. “A meta do IDEB não foi discutida com os diretores e não levou em consideração a realidade socioeconômica dos bairros. Isso desanima, porque trabalhamos muito, mas sem estrutura adequada e sem apoio suficiente”, disse.
A professora Bruna Martins, da Escola Municipal Paulo Luigi, também criticou a ausência de diálogo. “Falta diálogo com a equipe e com os servidores. Hoje, o posicionamento da secretária foi desfavorável e sem empatia com a nossa realidade. Queremos educação de qualidade e valorização dos professores. Essa foi a primeira vez que conseguimos falar diretamente com ela”, afirmou.
Em resposta, a secretária Silvana Garcia classificou a reunião como positiva e afirmou que considerará as críticas apresentadas. “Ouvi e também pude ser ouvida. Muitas questões apontadas eu não concordo, mas respeito e vou avaliar”, declarou.
Silvana ressaltou que o município estuda novos concursos públicos para suprir a carência de professores e profissionais da área de psicologia. “Precisamos fazer tudo com responsabilidade, respeitando os limites orçamentários. O profissional efetivo é para sempre”, observou.
O encontro foi marcado por momentos de tensão e reações do público presente, refletindo o descontentamento dos profissionais da educação municipal, que reivindicam melhor comunicação, condições de trabalho e valorização. A Comissão de Educação deve acompanhar os encaminhamentos e novas reuniões sobre o tema nas próximas semanas.
Medo de represálias
Entre os momentos de maior tensão da reunião esteve o questionamento da vereadora Yasmin Hachem sobre possíveis represálias. Ela destacou que o medo de retaliações se espalhou entre diretores, pedagogos e professores, e questionou se a postura da secretária poderia estar contribuindo para um ambiente de trabalho tenso e silencioso. A vereadora ainda criticou o que considerou indiferença da gestão diante das perguntas e problemas levantados pela rede.
A secretária Silvana Garcia respondeu que atua sempre dentro da legalidade e que suas portas estão abertas para professores, coordenadores e diretores. Ela ressaltou que, durante dez meses, a comissão de educação não havia procurado conhecer seu planejamento estratégico de forma coletiva, embora tenha recebido vereadoras individualmente. A secretária enfatizou que não houve intenção de desrespeitar a comissão e lembrou que não é obrigação da gestão fazer visitas semanais às reuniões da Casa.
Livros de inglês
Outro ponto que gerou debate intenso foi a retirada de livros de inglês da rede municipal. A secretária explicou que a decisão ocorreu após denúncias de pais e conferência do material, que apontou divergências em relação às diretrizes pedagógicas. Durante os dias em que os livros estiveram recolhidos, todos os alunos receberam suporte pedagógico, segundo ela. A medida atingiu cerca de 1.500 estudantes, uma pequena parte da rede de 30 mil alunos, e os professores tiveram alternativas pedagógicas para dar continuidade às atividades.
O recolhimento foi posteriormente embasado por um parecer técnico, emitido em julho, após a decisão, e que detalhou as questões encontradas no material. O relatório com data posterior a retirada dos livros também foi alvo de questionamento. A secretária negou que o relatório tivesse relação com o evento que ela participou em Alagoas promovido por uma editora de material didático de inglês junto à equipe.
O que chamou a atenção é de que a equipe que participou do evento foi a mesma que assinou o relatório desqualificado o atual material didático. A secretária chegou a dizer, em um primeiro momento, que os participantes do evento não teriam sido os mesmos que assinaram o documento sobre a inadequação do livro. Porém, ao ser confrontada pelos documentos que mostraram as assinaturas, ela alegou que não havia entendido a pergunta. O momento gerou muitas manifestações da
A comissão também questionou o número de reclamações de pais, e a secretária informou que, em média, oito famílias registraram queixas sobre conteúdos considerados inadequados para a faixa etária dos filhos. Ela reforçou que qualquer denúncia precisa ser verificada e, caso constatada, providências devem ser tomadas para garantir a responsabilidade da gestão. A secretária negou motivação política para a retirada dos livros e afirmou que não houve influência de vereadores nesse processo.