Os cigarros eletrônicos e vaporizadores com THC, o princípio ativo da maconha, invadiram o mercado. Foz do Iguaçu é uma porta de entrada da droga, amplamente comercializada nas lojas de Ciudad del Este, distribuída para todo país e, ainda, gera facilidade adicional para os consumidores da região.
As vantagens de se fumar o vape no lugar do tradicional baseado são várias: os aromatizantes incluídos no cigarro eletrônico disfarçam o odor típico da maconha e os usuários ainda podem sacar o ‘pendrive’ em lugares onde seria arriscado enrolar um ‘beck’!
A compra também acaba sendo mais segura, pois os consumidores desviam dos tradicionais traficantes escondidos em casebres para lojas bem iluminadas, coloridas e abertas em horário comercial na vizinha cidade paraguaia. Também há a sensação de estar consumindo algo que não parece ser ilegal.
Esta última vantagem é ilusória, pois a comercialização de cigarros eletrônicos é proibida no Brasil, pode-se apenas utilizar, mas se contiver maconha, seu consumo em público é proibido, com punições administrativas, como advertência sobre os efeitos das drogas e medida educativa de comparecimento a cursos.
Já para a saúde do usuário o cigarro eletrônico com erva pode ser ainda pior que a versão mais antiga. “O vape já causa asma, bronquite e infecções de repetição. E a versão com maconha provoca uma combustão da erva que aumenta muito seus efeitos deletérios, pois a quantidade absorvida é muito maior. Tem muitos pacientes que dizem que a droga os acalmava e que agora sentem ansiedade e até paranoia”, explicou o médico pneumologista Luiz Henrique Zaions, que completou que a possibilidade de uso em espaços públicos aumenta o interesse pela novidade. “O cheiro fica inibido e os usuários passam desapercebidos, com isso evitam a exclusão social”, completou.
Escândalo em Foz
Os cigarros eletrônicos com maconha estão no cerne de um escândalo que veio à tona na última quinta-feira. Gravações e troca de mensagens telefônicas atribuídas à secretária de Obras Thais Escobar, a colocaria como suposta intermediadora entre fornecedores e usuários de vapes. As provas incluem até comprovante de pix que a engenheira teria recebido em troca da mercadoria.
Entre as mensagens estão listas de preços, de sabores e até explicações sobre os efeitos físicos do produto. “Amigo, concentração é remédio, você toma remédio, Ritalina, estas coisas…o que você tá me perguntando é pensamento. Não é que você fica concentrado, você dá umas viajadas. O outro você fica mais lesado assim, mas no sentido do que é o negócio é bom. Aí é contigo. Te prometer concentração não, aí é remédio…”, diz áudio atribuído à Thais.
Questionado sobre o assunto, na manhã de sexta-feira, o prefeito Silva e Luna disse que sabia da notícia desde a noite anterior e que levou um susto. “Confesso que não falei com ela e perguntar o que é que houve. É chocante, tem uma conversa ali que tem que apurar. Eu conheço a família e ela ocupa o cargo porque é técnica, mas, logicamente, estas coisas têm de andar juntas, o comportamento das pessoas, o comportamento ilibado tem de andar juntos”, disse o prefeito.
Até o fechamento desta matéria a prefeitura não havia emitido nenhuma manifestação sobre o caso. Procurada, a secretária não retornou nosso contato.
Produto é proibido no Brasil e venda é crime de contrabando
O uso de cigarros eletrônicos, conhecidos como vapes ou “pods”, é proibido no Brasil. A restrição já existe há anos por meio de resoluções da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e, em dezembro de 2024, a Comissão de Indústria, Comércio e Serviços da Câmara dos Deputados aprovou projeto de lei que reforça essa medida.
A proposta proibiu a fabricação, importação, comercialização, armazenamento, transporte, propaganda e consumo dos dispositivos eletrônicos para fumar (DEFs). O texto também veda o uso em ambientes coletivos, públicos ou privados, mesmo que parcialmente abertos.
Quem vende vape no Brasil comete principalmente os crimes de contrabando e crime contra as relações de consumo, pois a importação, comercialização e propaganda desses dispositivos são proibidas pela Anvisa. Conforme a Lei 8.137/90, a venda de um produto impróprio para consumo (como o vape) é passível de prisão de 2 a 5 anos ou multa.