Um levantamento realizado pelo Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila) concluiu que a maior parte dos postos de combustíveis da região Oeste do Paraná não repassou integralmente ao consumidor a redução de R$ 0,17 no litro da gasolina anunciada pela Petrobras em junho deste ano.
O estudo monitorou 96 estabelecimentos em Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo, Medianeira e Marechal Cândido Rondon. De acordo com os pesquisadores, Foz apresentou a menor adesão: apenas 29% dos postos reduziram os preços, e somente um deles aplicou a queda total. A pesquisa também apontou demora no repasse, que em alguns casos só ocorreu cinco dias após o anúncio.
Sindicato fala em análise “simplista”
Os resultados, no entanto, foram contestados pelo Sindicato dos Proprietários de Postos de Combustíveis do Paraná (Sindicombustíveis-PR). O presidente da entidade em Foz do Iguaçu, Walter Venson, classificou a pesquisa como “rasa” e argumentou que a formação de preços envolve fatores que não foram considerados no levantamento.
“Não é de se esperar que os 17 centavos cheguem na bomba. Pode chegar mais, pode chegar menos, pode demorar alguns dias. Os postos têm estoque, trabalham com margens muito pequenas e enfrentam diferentes tributações ao longo da cadeia. A análise não pode ser tão simplista”, disse.
Venson criticou ainda a menção a indícios de cartel no setor. “Não existe cartel nenhum. Um posto não conversa com o outro. Dizer isso é ofensivo. É preciso conhecer mais profundamente o mercado antes de lançar esse tipo de suspeita”, afirmou, ressaltando que atua há 51 anos no ramo e ainda considera a cadeia de combustíveis “complexa”.
Margens apertadas e risco de prejuízo
O dirigente sindical explicou que, quando há anúncios de redução pela Petrobras, o efeito não é imediato no posto de combustíveis porque os empresários ainda têm estoque comprado a preços anteriores. Segundo ele, baixar os valores sem considerar essa defasagem pode gerar prejuízo.
“Como é que eu vou simplesmente ir na bomba e baixar 17 centavos de um dia para o outro? Eu começo a tomar prejuízo, deixo de pagar funcionários. A margem é muito pequena e não dá para trabalhar dessa forma”, afirmou.
Para Venson, afirmações generalizadas acabam colocando os postos como “vilões”, sem considerar a realidade do mercado. “Essas manifestações acabam jogando o consumidor contra os postos. Não é justo nem verdadeiro”, disse.
Procon confirma queda, mas em valores menores
O Procon de Foz do Iguaçu também analisou os preços no mesmo período e chegou a conclusões diferentes da Unila. De acordo com o presidente do órgão, Sidney Calixto, houve sim redução nas bombas, mas em valores médios de 8 a 9 centavos por litro — aproximadamente 75% da queda anunciada pela Petrobras.
Calixto explicou que os 17 centavos anunciados se referem à gasolina tipo A, pura, vendida às distribuidoras. Já nos postos, o combustível comercializado é a gasolina tipo C, que contém 27% de etanol anidro. Essa mistura reduz automaticamente o impacto da queda inicial. “É importante esclarecer que o desconto não era para ser de 17 centavos no posto. O valor teórico seria de 12 centavos, e a média que encontramos foi de 8 a 9 centavos. Portanto, houve repasse parcial, mas dentro do esperado”, detalhou.
Diferença metodológica
Outro ponto levantado pelo Procon é a diferença na metodologia. Enquanto a Unila monitorou uma amostra de estabelecimentos por meio do aplicativo Menor Preço, do programa Nota Paraná, o Procon afirma que acompanha todos os postos da cidade mensalmente. “Nós fazemos um estudo de 100%. É natural que um levantamento amostral apresente resultados distintos, mas no nosso monitoramento detectamos redução consistente”, explicou Calixto.