Um levantamento do Grupo de Pesquisa em Mobilidade e Matriz Energética da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (UNILA) revelou que a maior parte dos postos de combustíveis da região Oeste do Paraná não repassou integralmente ao consumidor a redução de preços promovida pela Petrobras em junho deste ano.
Entre os dias 1º e 21 de junho, os pesquisadores monitoraram 96 postos em Foz do Iguaçu, Cascavel, Toledo, Medianeira e Marechal Cândido Rondon. Nesse período, a Petrobras reduziu em R$ 0,17 o preço do litro da gasolina, mudança válida a partir de 3 de junho.
Os dados mostram que Foz do Iguaçu foi a cidade com menor adesão: apenas 29,17% dos postos reduziram os preços. Já Marechal Cândido Rondon registrou o maior índice, com 75% dos estabelecimentos repassando parte da redução ao consumidor. No entanto, em todas as cidades pesquisadas, apenas um posto em Foz e outro em Marechal aplicaram a queda integral de R$ 0,17.
Outro aspecto destacado pelo estudo é o tempo de repasse. Enquanto em Marechal Cândido Rondon a maioria dos postos reduziu os preços já no dia seguinte ao anúncio, em Foz do Iguaçu a alteração só começou três dias depois — e em alguns estabelecimentos, apenas a partir do quinto dia. Comportamento semelhante foi observado em Cascavel, Toledo e Medianeira.
“O reajuste para cima costuma ser imediato, mas quando há redução, o repasse demora ou não acontece”, explica Ricardo Hartmann, professor do curso de Engenharia de Energia e coordenador da pesquisa. Segundo ele, o trabalho começou em 2022, quando o governo deixou de controlar os preços dos combustíveis.
Hartmann destaca ainda que a falta de fiscalização favorece esse cenário: “O Procon e a ANP não têm estrutura suficiente. A população acaba desinformada, e a pesquisa é uma forma de dar visibilidade a esse problema”.
Tendência de estabilização
Comparando os dados de 2022 a 2025, o levantamento aponta maior estabilidade no mercado de combustíveis, com reajustes menores e menos frequentes. “Desde o segundo semestre de 2023, os aumentos ficaram mais espaçados e, recentemente, a Petrobras passou a reduzir os preços, menos influenciada pelas oscilações internacionais”, explica o pesquisador.
Ferramenta de monitoramento
Para a coleta de dados, os pesquisadores utilizaram o aplicativo Menor Preço, do programa Nota Paraná, que permite consultar valores de combustíveis diariamente e registrar o histórico de cada posto por até 30 dias. “É uma ferramenta confiável, já que os preços aparecem automaticamente quando o consumidor inclui o CPF na nota”, observa Hartmann.
Possíveis indícios de cartel
Embora o estudo não comprove a prática de cartel, os resultados levantam suspeitas sobre alinhamento de preços na região. “Não temos instrumentos de fiscalização para afirmar, mas há indícios. A confirmação dependeria de uma investigação formal dos órgãos de defesa do consumidor”, conclui Hartmann.