Verissimo morreu. Esta foi a mensagem que recebi em meu telefone.
Alguns minutos após meus respeitosos votos pela sua partida, me peguei pensando em toda a sua obra, seus familiares, amigos e em especial em Bagé.
Sim, em Bagé. É que eu sabia que Verissimo era alguém muito especial para ele. Uma referência. A relação entre os dois era muito próxima, como pai e filho ou criador e criatura. Refletia, quem sabe, a de Erico e Luis Fernando em uma sequência de gerações.
Eu sabia, também, que Bagé deveria estar destruído e resolvi ir, sem agendamento prévio, até o seu consultório. Ele poderia até tentar se fazer de durão, mas eu o conhecia.
Fui recebida pelo próprio Analista de Bagé, que com olhos embargados – atípicos de seu ser – me disse:
— Bah Tchê, o homem se foi, mas deixou um rastro de ironia e ternura que o tempo jamais apagará. Falar com ele era uma divertida conversa, com aquele humor peculiar que era meio chimarrão, meio risada contida.
Bege tinha razão. Concordei com ele e complementei dizendo que Verissimo havia sido gigante.
— Verissimo conhecia a sua potência nas letras e em tudo o que fazia, mas preferia fazer de conta que era apenas uma pessoa comum e que sabia rir da política, da filosofia, do futebol e até do amor. Riria de monte até de nós dois aqui. Ríamos um monte juntos, nós três.
Rimos, Bagé e eu e houve silêncio.
Perguntei , então, como seguiríamos com as escritas, após a partida de Luis Fernando e Bagé não titubeou, me disse, em tom forte, que seguiríamos produzindo. Seguiríamos escrevendo como se estivéssemos sentados à mesma mesa, falando sobre as comédias da vida privada, não tão privada assim.
— Releremos todos os seus livros, porque livros tem dessas coisas, continuam falando mesmo que não mais pela voz do seu escritor. Reforçou Bagé.
Concordei e para não deixar passar, combinamos que já na próxima sessão escreveríamos Verissimo e no estilo que sentíssemos vontade, quem sabe um romance ou uma peça de teatro. Uma viagem a um dos lugares famosos onde nosso, amigo em comum, havia vivido.
O título já tínhamos: A Verissima Sessão.
___ Por Estella Parisotto Lucas
Sobre Luis Fernando Verissimo
Luis Fernando Verissimo nasceu em 26 de setembro de 1936 em Porto Alegre – RS e faleceu no dia 30 de agosto de 2025 na mesma cidade. Foi um dos mais populares escritores brasileiros contemporâneos, com mais de 80 títulos publicados. Luis Fernando era filho do também escritor gaúcho Erico Verissimo.
Inquieto, como costumam ser as pessoas das letras, Luis Fernando Verissimo foi além de escritor, cartunista, tradutor, roteirista, romancista e dramaturgo. Artista múltiplo foi publicitário, revisor de jornal e músico. Tocou saxofone em alguns conjuntos de jazz, entre eles o Jazz 5.
Na adolescência morou em algumas cidades nos Estados Unidos com sua família de origem. Já adulto, casado e com sua família constituída morou naquele país, novamente, mas por um curto período de tempo e em Nova Iorque.
Publicou seu primeiro livro, O Popular, em 1973. O Analista de Bagé veio em 1981, logo após seu retorno, com a família, dos Estados Unidos. Foi nos anos de 1980 que se consagrou, um período muito produtivo em sua vida e reconhecimento de sua obra. Neste período, também morou em Roma e Paris.
Nos anos de 1990 publicou e produziu ainda mais. Publicou A comédia da Vida Privada, que tornou-se um especial de TV. Recebeu prêmios e reconectou-se com a música.
Nos anos 2000 Verissimo iniciou seus romances e séries de novelas. Passou a escrever textos mais longos. Vendeu ao todo mais de 5 milhões de exemplares de seus livros. Foi gigante e permanece em seus textos, em sua brilhante obra.
Até um outro dia qualquer,
Estella!