Nesta semana a Polícia Federal realizou mais uma etapa da operação Vox Integra (voz íntegra, em português), em São Miguel do Iguaçu. A investigação busca esclarecer sérias denúncias feitas durante as últimas eleições municipais naquela cidade, mas pouco divulgadas até então.
Os policiais cumpriram seis mandados de busca e apreensão, expedidos pela Justiça Eleitoral, para localizar indícios da prática dos crimes de assédio, constrangimento, perseguição e ameaça à época das eleições.
A denunciante é a professora Rejane Christ, que concorria ao cargo de prefeita pelo partido União. Rejane ficou em segundo lugar no pleito, com pouco mais de 32% dos votos. O então prefeito Boaventura Manoel Motta foi reeleito com cerca de 67% dos votos. O terceiro colocado foi candidato Neivo de Mattos, com 0,47%.
Em entrevista exclusiva à Rádio Cultura, a servidora pública estadual relembra os momentos de horror vividos durante a campanha. “Foi uma violência contínua e cruel desde o início da campanha. Uma manhã meu esposo encontrou no jardim da nossa casa um envelope escrito ‘desista professorinha’, dentro do envelope tinha uma bala de pistola 9mm e, na bala, estava gravado meu nome. Neste dia fizemos boletim na Polícia Civil e nos reunimos com a juíza eleitoral”, relatou.
Ela conta que, desde o anúncio de sua candidatura sofreu linchamento nas redes sociais, com postagens e mensagens denegrindo sua imagem e com conteúdo ameaçador. “Sofri violência de gênero, nunca quiseram discutir meus projetos, minhas ideias. Se fosse um homem não teriam agido com tanta covardia”. A partir dai ela começou a ser escoltada por um policial da Força Nacional.
Rejane disse que sua campanha foi extremamente prejudicada pela perseguição que não cessava. Em todos os compromissos ela era seguida por diversos carros, mesmo estando com segurança. “Um dia estávamos numa reunião aberta e diversos carros ficaram passando e nos encarando. Saímos às pressas e fomos perseguidos pelas ruas da cidade. Num determinado ponto, fecharam nosso carro e alguns homens vieram na nossa direção com armas em punho. Meu motorista conseguiu fugir pela calçada. Nunca senti tanto medo na minha vida. Naquele momento tinha certeza que iria morrer”. Vídeos de câmeras de segurança mostram a perseguição.
Ela lembra que não conseguia cumprir sua agenda e que foi impedida de visitar certos salões comunitários das localidades da zona rural e que a todo momento era avisada para `desistir`.
Após a campanha a professora teve de se afastar por um tempo da escola onde é diretora e sua vida mudou radicalmente. “Hoje vivo com acompanhamento psiquiátrico, não tenho vida social, sinto medo o tempo todo e ainda recebo ameaças por prosseguir com os processos”. Segundo ela a família pensa em deixar a cidade. “É surreal isso acontecer numa cidade como São Miguel. Muita gente ainda duvida, diz que estou inventando, mas vou provar a verdade. Desde que a Policia Federal entrou no caso me sinto acolhida, mais segura e tenho certeza de que conseguiremos provar tudo o que aconteceu”. Rejane diz que conhece todos os seus algozes e espera que a Justiça os puna.
A entrevista completa com professora Rejane Christ vai ao ar no Jornal da Cultura desta segunda feira, a partir das 7h.