O número representa uma pequena redução em relação à média de 93 onças em 2022, para 84 em 2024. De acordo com o projeto Onças do Iguaçu, os dados indicam uma tendência de estabilidade, resultado de duas décadas de trabalho contínuo, cooperação trinacional e estratégias bem aplicadas de conservação, mas confirma que a população permanece relativamente estável dentro das faixas naturais de variação para grandes felinos que ocupam áreas extensas.
Nos últimos 20 anos os projetos Yaguareté (Argentina) e Onças do Iguaçu (antigo Carnívoros do Iguaçu) monitoram a flutuação da população da espécie na região do Corredor Verde, maior núcleo remanescente de onças-pintadas na Mata Atlântica em nível mundial.
Entre 1990 e 1995, estimava-se que o Corredor Verde abrigasse 400 a 800 onças-pintadas. Porém, ao final daquela década, abate, caça e perda de habitat provocaram um declínio alarmante: em 2005, restavam cerca de 40 animais em toda a área, cenário crítico que quase levou a espécie à extinção regional.
No Parque Nacional do Iguaçu, apenas 9 a 11 animais foram registrados em 2009. A população dobrou entre 2005 e 2016 (de 40 para aproximadamente 90 onças) e continuou crescendo até 2018. Esse crescimento tem sido possível graças a esforços de instituições dos dois países, que envolvem desde fiscalização para redução das ameaças, como a caça, até ações de engajamento, coexistência, manejo e pesquisa.
Muitas propriedades que criavam gado agora se dedicam ao plantio de soja e milho, o que reduziu um pouco os conflitos. Os censos de 2020 e 2022 indicaram estabilidade, com a estimativa média de 93 onças-pintadas (intervalo 73 – 122) no Corredor Verde e 25 onças (19 – 33) no Parque Nacional do Iguaçu. O panorama de 2024 reforça a necessidade de vigilância constante, mas mostra que os ganhos obtidos em duas décadas vêm sendo mantidos.
Para enfrentar ameaças, como o abate por retaliação, o Projeto Onças do Iguaçu e parceiros fazem visitas nas propriedades, nos dez municípios vizinhos ao parque. A estratégia envolve resposta imediata a casos de predação, implementação de medidas anti-predação e orientação direta à população rural sobre boas práticas de manejo — reduzindo vulnerabilidades e prevenindo retaliações.
Onde tem onça, tem vida
“Mesmo diante de desafios complexos, conseguimos manter uma população relativamente estável ao longo dos últimos anos. Isso demonstra que as estratégias de conservação e manejo adotadas estão funcionando. Sem essas medidas, muitos desses felinos não estariam mais aqui. A leve queda é um alerta, mas também uma prova de que esforços conjuntos e contínuos podem evitar retrocessos. A onça-pintada é espécie guarda-chuva: sua proteção salvaguarda a floresta, cursos d’água e inúmeros outros seres vivos — inclusive modos de vida humanos que dependem de ecossistemas saudáveis. Manter essa população viva é um compromisso de longo prazo que envolve ciência, fiscalização, diálogo comunitário e cooperação trinacional”, afirma Yara Barros, coordenadora do projeto Onças do Iguaçu