A Secretaria Municipal de Educação decidiu retirar o livro didático de Inglês que estava sendo utilizado pelo quarto ano da rede municipal de ensino. A ação foi motivada após o vereador Bosco afirmar, de forma equivocada, que o livro promovia relacionamento amoroso entre duas meninas. O vereador Ranieri Marchioro também se manifestou pela retirada do material. O livro vinha sendo utilizado pelas escolas municipais desde 2021.
A manifestação do vereador girou em torno de uma das lições do livro sobre o Valentine’s Day, data celebrada, principalmente nos Estados Unidos, no dia 14 de fevereiro. Culturalmente, o dia de São Valentim é a celebração do amor universal, e existe a troca de presentes e afeto entre amigos, familiares ou namorados. Porém, no Brasil, onde não há a tradição de comemorar a data, está mais relacionado ao dia dos namorados.
Na lição, que o vereador afirma ter sido alvo de questionamentos de pais de alunos, duas meninas trocam declarações de amor. De acordo com professores, no contexto da história, as meninas são apenas amigas. Mas, para o vereador Bosco, a história teria conotação romântica. “Isso pode deixar muitas crianças confusas” disse o vereador em um vídeo publicado nas redes sociais.
Secretaria de Educação
Após as manifestações do vereador, a secretária de educação, Silvana Garcia, também publicou um vídeo nas suas redes sociais afirmando que havia ordenado a retirada dos livros das escolas. Segundo ela, um novo material didático deverá ser distribuído para as escolas municipais. Em nota, a secretaria afirma que “no material analisado, foram identificados conteúdos que abordam temas relacionados a namoro e afetividade amorosa”.
“Independentemente do enfoque ou da linguagem, esse tipo de abordagem não é adequado para crianças de 6 a 11 anos, por tratar-se de uma etapa da vida em que o foco deve estar no desenvolvimento de competências básicas, como alfabetização, socialização e introdução à língua estrangeira por meio de conteúdos lúdicos, objetivos e compatíveis com a faixa etária” prossegue a nota.
Curiosamente, a confirmação da troca do material didático ocorreu poucos dias após a secretária se reunir com uma editora para analisar novos livros de inglês para a rede municipal de ensino. Além disso, a secretaria informou que existe um material complementar que já vinha sendo utilizado, que será mantido para garantir que as aulas de inglês sejam aplicadas.
“Importante reforçar que os alunos não ficarão sem material didático. A rede municipal já utiliza, de forma complementar, uma apostila desenvolvida pela própria Secretaria Municipal de Educação, cuidadosamente estruturada para atender aos objetivos da etapa, contemplando todo o conteúdo necessário de forma adequada à idade e ao currículo” afirma a nota.
Ex-Secretária
Como destacado, o material vem sendo utilizado desde 2021. Na ocasião, a Secretária de Educação era a professora Maria Justina da Silva. A Rádio Cultura entrou em contato com a ex-secretária, que explicou que o livro foi escolhido por uma equipe que analisou cuidadosamente todo o material. De acordo com ela, até então, nenhum pai, ou professor, teria se manifestado contrário as lições do livro didático.
Sinprefi
O anúncio da retirada do material gerou manifestações de outros vereadores, como Yasmin Hachem e Valentina, que criticaram a decisão pela retirada do material. Além disso, o Sindicato dos Professores da Rede Municipal de Ensino (SINPREFI) emitiu uma nota se posicionando contrário a medida. Para o sindicato, a decisão da secretaria demonstra subserviência a grupos políticos.
“Não podemos cair em armadilhas de interpretações completamente fora do contexto e transformar a Educação de Foz do Iguaçu em uma subserviência de determinados grupos políticos, nem aceitar que a Secretaria Municipal de Educação compactue com essas práticas”, defende o Sindicato dos Professores e Profissionais da Educação da Rede Pública Municipal de Foz do Iguaçu (Sinprefi). A manifestação foi assinada pela presidente do sindicato, Viviane Dotto, e é um ato em defesa dos professores do município.
Para o Sindicato, a leitura de um recorte do conteúdo gera julgamento parcial e tendencioso, com interpretação rasa e perspectiva distorcida. “O que está havendo é que estão tratando o Valentine´s Day como se fosse o Dia dos Namorados do Brasil e não é a mesma coisa”, lamenta a professora de Língua Inglesa da Escola Municipal Getúlio Vargas, Denise Vidal. O diálogo consta no capítulo sobre Valentine´s Day, no livro de Inglês usado nas turmas de contraturno do projeto “Inglês nas Escolas”, iniciado em 2022, para alunos do 4º ano. O conteúdo explica que essa é uma data comemorativa de países de Língua Inglesa, como Estados Unidos e Canadá.
O próprio livro contextualiza: “As pessoas do mundo inteiro enviam cartões que chamam de Valentines para celebrar este dia especial. No Valentine’s Day, mostramos nosso amor pelos nossos amigos e familiares com presentes e cartões.” “Eu já morei fora do Brasil e vivenciei a data do Valentine´s Day dentro de escolas, enquanto professora também, e estou preocupada com a posição perigosa em que os vereadores estão nos colocando diante dos pais com as falas que estão fazendo”, afirma a professora de Inglês, Denise Vidal.
O sindicato que representa os professores encaminhou ofício à Secretaria de Educação solicitando quais análises foram feitas antes do recolhimento do material. O Sinprefi também irá tomar as medidas judiciais cabíveis, além de acionar a Câmara de Vereadores para que investigue possível quebra de decoro parlamentar por parte dos vereadores, por ofensas aos servidores e abuso de prerrogativas ao exigir a retirada do material didático, sem sequer ter um parecer pedagógico ou da Comissão da Educação, Conselho Municipal ou outro órgão.