A manhã desta quarta-feira (10) foi marcada por uma ampla mobilização dos professores da rede municipal de ensino de Foz do Iguaçu. Dezenas de profissionais, representando 34 das 50 escolas municipais, se reuniram em frente à Prefeitura para protestar contra dois pontos centrais: a nova matriz curricular proposta pela Secretaria Municipal de Educação e a Instrução Normativa de escolha e distribuição de turmas.
A manifestação pressionou a administração a reabrir o diálogo com a categoria. Diante da mobilização, o prefeito Joaquim Silva e Luna, acompanhado do secretário executivo de governo, Eduardo Garrido, e da Comissão de Educação da Câmara, representada pelos vereadores Adnan El Sayed, Yasmin Hachem, Valentina Rocha e Márcia Bachixte, recebeu uma comissão formada por representantes dos professores e do Conselho Municipal de Educação. A secretária de Educação, Silvana Garcia, não participou da reunião.
De acordo com a professora Daisy Kazienko, representante dos docentes do Ensino Fundamental no Conselho Municipal de Educação, o encontro com o prefeito foi marcado por escuta e abertura para que os profissionais apresentassem os problemas vividos nas escolas ao longo do ano. Daisy detalhou os principais equívocos da nova matriz, o impacto da Instrução Normativa sobre a rotina pedagógica e a dificuldade de diálogo com a Secretária de Educação. Ela afirmou que o prefeito demonstrou surpresa diante das informações e garantiu o adiamento da distribuição de turmas, que ocorreria nesta quinta-feira (11).
Na tarde do mesmo dia, o Conselho Municipal de Educação se reuniu para deliberar sobre a nova matriz curricular. A proposta não foi aprovada em caráter de urgência, o que significa que retornará às comissões permanentes para análise detalhada pelos próximos 30 dias. Dessa forma, ficou definido que a matriz atual será mantida em 2026 e que a nova versão só poderá entrar em vigor, caso aprovada depois do período de estudo, a partir de 2027.
Durante a reunião, um dos pontos mais discutidos foi a disciplina de língua estrangeira. A professora Daisy destacou que Foz do Iguaçu é uma cidade de fronteira, que recebe grande fluxo migratório de países hispanofalantes, fazendo com que o espanhol seja a língua mais presente entre os estudantes que chegam à rede.
Apesar disso, a matriz propunha a adoção do inglês como língua estrangeira moderna — sem que houvesse profissionais suficientes e devidamente qualificados para atender todas as turmas. Segundo ela, a Secretaria pretendia distribuir aulas de inglês a professores sem formação específica e sem passar pelas provas obrigatórias previstas em normativa estadual.
Outro ponto sensível apontado por Daisy foi a proposta de unificar as aulas de informática educacional e robótica, ampliando a ênfase em robótica para todas as escolas, mesmo sem estrutura mínima para isso. Ela explicou que, das 17 escolas que atualmente oferecem robótica, três possuem equipamentos, mas nenhum professor habilitado para atuar na área, e a maioria das unidades sequer tem laboratório adequado. Para a professora, exigir a aplicação de uma matriz com esse formato seria inviável e prejudicaria o trabalho pedagógico.
Para Daisy, o resultado do dia representou uma vitória significativa: os professores foram finalmente ouvidos, a distribuição de turmas foi suspensa e a matriz retornou para estudo aprofundado. A nova data da distribuição ainda não está definida, mas pode ocorrer no dia 19 de dezembro, conforme sugerido pelos próprios docentes. Até lá, as escolas continuarão organizadas a partir da matriz vigente.
A mobilização desta quarta-feira marca um capítulo importante na defesa da gestão democrática e na luta por condições reais de implementação pedagógica na rede municipal de Foz do Iguaçu. A Rádio Cultura entrou em contato com a prefeitura, mas até o momento não obteve retorno.
