Pacientes do Tratamento Fora do Domicílio (TFD) viveram momentos de tensão durante a madrugada de segunda (08) para terça-feira (09) na BR-277. Um ônibus contratado pela Prefeitura de Foz do Iguaçu, apresentou falha mecânica por volta das 22h, próximo a Prudentópolis, e permaneceu parado até cerca de 9h30 da manhã seguinte. O veículo transportava bebês, idosos, pessoas recém-saídas de internação, pacientes transplantados e usuários que dependem de cuidados contínuos. Sem previsão de socorro e sem estrutura adequada, todos ficaram expostos ao frio, à chuva, ao escuro e aos riscos da rodovia.
A passageira Daniela, mãe de um adolescente que necessita de cateterismo intermitente, relatou que a situação se agravou rapidamente. Segundo ela, o ônibus parou em um trecho da BR-277 com acostamento estreito e pouca iluminação. Os motoristas tentaram solucionar o problema, mas não conseguiram. A promessa de que o veículo seria rebocado até o Restaurante Chalé, a poucos minutos dali, não se concretizou. Durante a madrugada, Daniela precisou improvisar o esvaziamento da bexiga do filho no mato, sem condições de higiene e sob risco de infecção. Ela afirma que crianças ficaram sem comer, idosos sem assistência e mães tiveram de cuidar de bebês no escuro. “Foi desumano. Ficamos quase 12 horas esperando. Ninguém ajudava”, descreveu.
Entre os passageiros também estava Tainá, mãe de um bebê ostomizado de nove meses. Ela relatou extrema dificuldade para higienizar a bolsa do filho, procedimento que exige ambiente limpo e iluminação adequada. Sem água, sem ventilação e com o banheiro do ônibus em condições precárias, ela improvisou o atendimento com auxílio de outra passageira. “Foram horas muito difíceis. Chuva, risco de acidentes, crianças pequenas, idosos. Foi um caos total”, disse.
A paciente Alane, transplantada renal e recém-saída de uma internação hospitalar, reforçou o clima de insegurança. Segundo ela, os passageiros ficaram sem informações durante toda a madrugada. Sem eletricidade dentro do ônibus, ela relata que pessoas precisavam sair para fazer necessidades no meio do mato. “Ligamos para a PRF e para a concessionária. Ninguém ajudou. Foram 11 horas no meio do nada”, afirmou.
Outro passageiro, Luciano, transplantado renal, criticou especialmente a falta de ação da concessionária responsável pelo trecho da BR-277. Ele afirma que bastaria rebocar o ônibus por uma pequena distância para colocá-lo em segurança. “Era só puxar 1.500 metros. A gente ficou exposto, correndo risco de acidente e de assalto”, disse.
Um caminhoneiro que passava pelo local, segundo os relatos, teria tentado interceder e pedido o guincho do ônibus, mas a equipe da concessionária teria informado que só poderia remover o veículo se estivesse vazio. Uma ambulância chegou a comparecer ao local, mas prestou apoio apenas a uma mulher que passou mal, sem oferecer transporte aos demais pacientes. A ausência de apoio da Polícia Rodoviária Federal também foi citada pelos passageiros, que afirmam ter ligado várias vezes pedindo ajuda. A demora na chegada de um novo ônibus e a falta de alternativas de acolhimento agravaram a situação.
Em nota oficial, a Prefeitura de Foz do Iguaçu confirmou a “intercorrência operacional” no transporte de pacientes do TFD. A Secretaria Municipal de Saúde informou que notificou formalmente a empresa contratada e solicitou esclarecimentos, além de abrir procedimento para apuração do ocorrido. O município afirma que acompanha o caso e que adotará medidas previstas em contrato e na legislação caso sejam constatadas irregularidades. A administração reiterou ainda o compromisso com a segurança dos pacientes e com a qualidade dos serviços de saúde oferecidos.
