O deputado estadual Goura (PDT) esteve em Foz do Iguaçu para participar da terceira edição do evento “Cidade que Queremos”, iniciativa que discute temas como urbanismo, mobilidade, meio ambiente e participação social. Segundo ele, a proposta é ampliar o diálogo com a comunidade e transformar sugestões da população em ações concretas. “Esse evento nasce da escuta. A ideia é que as pessoas possam contribuir, questionar, apontar caminhos. O planejamento da cidade não pode ser feito apenas de gabinete; tem de ser construído coletivamente”, afirmou. A programação incluiu homenagens a entidades locais, entre elas a Rádio Cultura, reconhecida por seu papel de mediação pública e comunitária.
Durante a entrevista ao programa Contraponto – A Voz do Povo, Goura destacou a necessidade de rever o modelo de mobilidade urbana adotado no Paraná. Ele defendeu investimentos consistentes no transporte coletivo, nos deslocamentos a pé e na mobilidade ativa, especialmente ciclovias com estrutura adequada. “O Estado ainda incentiva demais o transporte individual. É preciso inverter essa lógica e priorizar o transporte público e quem usa a cidade com o próprio corpo: pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência”, disse.
O deputado também reforçou a defesa da tarifa zero, citando cidades paranaenses que já adotaram o modelo. “Paranaguá, Rio Branco do Sul e Itaperuçu provaram que é possível. Nosso projeto de lei quer ampliar o subsídio estadual para que municípios maiores, como Foz do Iguaçu e Curitiba, possam seguir o mesmo caminho.”
Goura também chamou atenção para as deficiências na acessibilidade urbana, incluindo a capital. “Curitiba ainda está muito aquém do que se espera de uma cidade moderna. Foz também. Falta calçada acessível, falta sinalização, falta pensar a cidade para todos. A acessibilidade não pode ser tratada como favor: é política pública com meta e orçamento.” Ele destacou que diversas iniciativas de seu mandato surgem de sugestões de cidadãos e entidades. Um dos exemplos é o projeto de proteção ao peixe dourado no Rio Iguaçu, construído a partir de uma proposta apresentada por um servidor da Itaipu. “É assim que deveria funcionar: sociedade e poder público caminhando juntos.”
O deputado reforçou ainda que o papel das entidades organizadas precisa ser valorizado, ao lado de universidades e instituições de pesquisa. Ele criticou a ideia de que o Estado deva funcionar como empresa. “Poder público não tem como objetivo dar lucro. Quem produz acolhimento, cultura, inclusão e meio ambiente são as organizações sociais. A ADERI, a Unioeste, a Unila, tantas outras instituições são fundamentais para a democracia e para um Paraná mais justo. O Estado deve apoiar, não substituir.”
Eleições 2026
Ao comentar o cenário político para as eleições de 2026, Goura avaliou que o ambiente ainda está em construção, sobretudo porque o governador Ratinho Júnior, cumprindo seu segundo mandato, não será candidato. O deputado reiterou que o PDT lançará Requião Filho ao governo. “Teremos candidatura própria porque acreditamos que é possível apresentar um projeto alternativo, com mais participação social e mais compromisso com os bens públicos”, afirmou.
Em Foz, reforçou o nome de alito Stoeckl como pré-candidato a deputado federal e confirmou que deve buscar a reeleição para a Assembleia Legislativa. “Temos um projeto para o Paraná, e Foz é peça essencial nesse processo.”
O parlamentar também criticou a polarização nacional, afirmando que ela empobrece o debate público e tira o foco dos problemas reais do Estado. “Só se fala em Lula e Bolsonaro, e isso não resolve os desafios do Paraná. Precisamos discutir urbanismo, clima, energia, desigualdade, gestão de serviços. A política tem de voltar para o chão da vida das pessoas.”
Meio Ambiente
A questão ambiental também ocupou parte relevante da conversa. Goura classificou como “grave retrocesso” a derrubada dos vetos na Lei Geral de Licenciamento Ambiental. Para ele, o enfraquecimento do licenciamento pode gerar impactos severos. “Estamos falando de um instrumento que salva vidas, que evita tragédias como as que vimos no Brasil nos últimos anos. Não é um entrave: é uma proteção.” O deputado disse esperar que o Senado revise a decisão ou que o tema seja judicializado. “Política ambiental tem de se basear em ciência, em pesquisa e em diálogo. Não em pressa ou pressão econômica.”
Privatizações da Copel, Celepar e escolas
O deputado também criticou o processo de privatização em curso no Paraná. Ele afirmou que o debate sobre a Copel precisa ser retomado de forma profunda e responsável, defendendo inclusive que é possível discutir caminhos jurídicos para reestatizar a companhia. Segundo ele, a Copel sempre foi referência nacional como empresa pública de energia e deveria voltar a cumprir esse papel estratégico para o Estado.
Goura também fez críticas ao movimento do governo estadual para privatizar a Celepar, empresa estatal responsável pela tecnologia da informação no Paraná. Destacou que a Celepar é uma referência nacional em serviços digitais e que sua venda traria riscos à segurança dos dados públicos e à autonomia tecnológica do Estado. O deputado afirmou que a bancada do PDT é contrária à proposta e que seguirá trabalhando para impedir o avanço dessa privatização.
Em relação às escolas públicas, Goura reforçou que a lógica da privatização não deve ser aplicada à educação. Ele argumentou que governo não pode ser conduzido como empresa e que o papel do Estado é garantir acesso universal a serviços essenciais, não priorizar lucro. Para ele, a gestão educacional deve ser fortalecida com investimento público, valorização dos profissionais e políticas que deem qualidade ao ensino, e não com modelos de terceirização ou entrega da rede a iniciativas privadas.
Desigualdade social
Ao tratar das desigualdades sociais em Foz e em outras cidades paranaenses, Goura destacou que o problema não está no volume de riqueza gerado, mas na forma como ela é distribuída. “Foz tem um PIB de R$ 19 bilhões e ainda assim enfrenta desigualdade enorme. O mesmo vale para Curitiba. Não é falta de recursos, é falta de justiça social e tributária”, afirmou. Ele citou a ampliação da isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil, além dos descontos aplicados até R$ 7.350, como exemplo de políticas que aliviam a carga sobre quem mais precisa. Para enfrentar desigualdades, defendeu a expansão de serviços públicos essenciais, especialmente educação, saúde e transporte, além de políticas de combate à pobreza e vulnerabilidade.
Cultura
Por fim, Goura ressaltou que cultura também é ferramenta de inclusão e transformação. Ele citou a experiência de Medellín, na Colômbia, que descentralizou centros culturais e levou equipamentos às periferias. “Cultura não é luxo, é direito. Quando você leva cinema, teatro, dança e educação para as regiões mais vulneráveis, o que você cria é pertencimento e oportunidade. E isso reduz desigualdade de verdade.”
