O chefe do Parque Nacional do Iguaçu, Ulisses dos Santos, detalhou em entrevista à Rádio Cultura Foz um amplo processo de reestruturação das atividades de visitação, que busca aproximar o parque brasileiro dos padrões dos principais destinos de natureza do mundo. A estratégia aposta na diversificação das experiências, na valorização ambiental e no aumento do tempo de permanência dos turistas na região trinacional.
Durante anos, o parque foi visto como um destino de visita rápida, concentrado exclusivamente nas Cataratas do Iguaçu. Segundo Ulisses, estudos internos comprovaram que muitos estrangeiros deixavam a cidade com a sensação de que faltavam opções de contato com a natureza. A nova fase pretende justamente ocupar essa lacuna e fortalecer o potencial do território.
Novos atrativos e atividades ao ar livre
As primeiras ações já estão em implantação nas áreas do Poço Preto e Bananeiras, coordenadas pelo ICMBio e pela concessionária Urbia Cataratas. Entre elas estão stand-up paddle, caiaque, banho de rio, tirolesa, trilha suspensa e um mirante com vista para as ilhas argentinas.
Ulisses explica que o conjunto de novidades segue critérios técnicos e ambientais rigorosos. “Queremos ampliar a experiência, mas sempre dentro da lógica de uso público sustentável. Tudo passa por estudo e planejamento”, afirmou.
O parque também avalia a instalação de torre de observação de fauna, trilhas de longo curso para caminhadas e cicloturismo, áreas de acampamento e glamping, além da possibilidade de navegação turística entre Bananeiras, Poço Preto e Capanema. Um diagnóstico técnico analisa ainda a viabilidade de atividades de mergulho no Rio Iguaçu.
Conexão regional e fortalecimento dos municípios vizinhos
A ampliação de atrativos vem acompanhada de uma nova relação com as comunidades do entorno. O ICMBio desenvolve, em parceria com prefeituras de Serranópolis e Capanema, ações que incluem integração de trilhas de longa distância, revitalização da Ilha do Sol e consolidação do parque municipal da foz do Rio Santo Antônio.
Ulisses resume essa abordagem como um novo modo de atuar do órgão. “Nosso lema é conservar com as pessoas. Não existe parque isolado da comunidade”, destacou.
A navegação de lazer em áreas específicas do Rio Iguaçu já está regulamentada, mediante cadastro das embarcações. Sobre a pesca, ele reforça que a proibição não é local, mas federal. “A legislação é clara. Qualquer mudança depende do Congresso, não do ICMBio”, explicou.
Fiscalização mais presente e resultados na conservação da fauna
As operações de fiscalização foram intensificadas nos últimos meses, alcançando até 15 dias de atividades em campo por mês, com apoio de Polícia Federal, Polícia Militar, PRF, Exército e Marinha. O reforço foi viabilizado após decisão judicial que destinou R$ 54 milhões ao ICMBio.
Para Ulisses, o aumento no volume de ocorrências registradas tem uma explicação simples: mais presença das equipes. “O que aumentou não foi o crime; foi a nossa presença. Estamos cobrindo mais área, com mais efetivo”, disse.
A fauna também demonstra sinais de recuperação, com registros mais frequentes de onças e queixadas nas trilhas. “Isso mostra que o ambiente está equilibrado e que o turismo bem manejado não afugenta a vida selvagem”, avaliou.
Resgate histórico na Usina São João
A entrevista também abordou a revitalização da antiga Usina São João, que passa por um processo de recuperação de seus equipamentos originais, com apoio de Itaipu. A proposta inclui painéis interpretativos, cenografia histórica e ampliação da visitação.
Para Ulisses, o resgate da memória da região é parte essencial da experiência no parque. “A usina é um patrimônio. Queremos que as pessoas entendam o que ela representou para o desenvolvimento local”, destacou.
