Em meio à revisão do Plano Diretor e às transformações estruturais que avançam na cidade, Foz do Iguaçu enfrenta um dos momentos mais determinantes de sua história recente. O arquiteto e urbanista Alexandre Martins Baltazar, avalia que o município está diante de uma “janela de oportunidade” para consolidar um desenvolvimento sustentável, mas que também corre riscos sérios se não atuar com planejamento.
Segundo Baltazar, o contexto atual — marcado pela construção da Perimetral Leste, pela nova ponte internacional com o Paraguai e pela implantação do novo Porto Seco — reposiciona Foz como uma espécie de “cidade portuária”, devido ao intenso fluxo de carga que deverá se concentrar na região.
O arquiteto explica que o acúmulo de caminhões, característico de zonas portuárias, exige atenção imediata do poder público. “Esses veículos ficam muitas vezes dias à espera de liberação nas aduanas. Onde há aglomeração de caminhoneiros por longos períodos, surgem serviços no entorno — e alguns podem ser ilícitos”, afirmou. Ele cita exemplos clássicos de regiões portuárias brasileiras onde esse cenário gerou aumento de prostituição, tráfico e vulnerabilidades sociais.
Baltazar alerta que o impacto será ainda maior devido à proximidade dessa movimentação com áreas sensíveis, como a ocupação do Bubas, uma das maiores do Paraná. “É uma comunidade frágil, que pode sofrer consequências diretas do aumento de circulação e permanência de caminhões ao lado de suas moradias. É um problema anunciado”, reforçou.
Além disso, ele observa que a chamada Perimetral, na prática, já não funciona como uma via periférica, pois a área urbana de Foz cresceu e ultrapassou seu traçado original. “Ela é praticamente uma diagonal dentro da cidade. O planejamento precisa considerar isso na definição de usos, acessos e integração com os bairros.”
Outro ponto essencial está na requalificação das margens dos rios, que segundo Baltazar, deveriam estar protegidas, mas seguem ocupadas. “Foz é uma cidade das águas, com o Lago de Itaipu, os rios Iguaçu, Paraná, Almada e Boicy. Ocupações e adensamentos nessas áreas geram risco ambiental, social e de segurança, especialmente numa cidade de fronteira.”
Com ocupações vulneráveis às margens dos rios, há também a presença frequente de atividades ilícitas. “Reurbanizar esses espaços é fundamental não só para preservação ambiental, mas para organizar o território e reduzir riscos.”
Para enfrentar os problemas que já existem e os que estão por vir, Baltazar defende o uso de operações urbanas consorciadas, instrumento previsto no Estatuto da Cidade. “É uma forma de qualificar regiões estratégicas, atrair investimentos, garantir infraestrutura adequada e organizar áreas críticas.”
O zoneamento urbano é outro elemento-chave. “Definir claramente os usos permitidos no entorno da Perimetral e das aduanas é essencial para evitar a expansão desordenada e minimizar conflitos entre logística e áreas residenciais. Se nada for feito, os problemas virão — não há dúvida disso.”
Baltazar também destacou que a sociologia urbana de Foz precisa ser considerada. Como cidade formada por migrantes e imigrantes, muitos habitantes historicamente não se sentiram pertencentes ao território. “Essa cultura do ‘um dia voltar para minha cidade’ diminuiu o cuidado e o envolvimento com a vida urbana. Mas isso está mudando com as novas gerações e com a qualificação dos serviços e projetos estruturantes.”
Fortalecer esse senso de pertencimento, segundo ele, eleva a autoestima do cidadão e contribui para uma cidade mais participativa e bem cuidada. Baltazar reforça que a revisão do Plano Diretor, atualmente em andamento, é a principal oportunidade para garantir que a cidade se prepare adequadamente para o crescimento. “É agora que se definem as diretrizes para a Foz dos próximos 20 anos. A sociedade precisa acompanhar, sugerir e participar desse processo.”
Para ele, o município, que já mudou muito nas últimas décadas, vive condições favoráveis para dar um salto de qualidade — desde que haja planejamento. “A cidade tem potencial enorme, mas o desenvolvimento precisa considerar as dimensões social, ambiental e urbana de forma conjunta. Esse é o caminho para uma Foz do Iguaçu mais sustentável e equilibrada.”
