O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO) deflagrou, na manhã desta terça-feira, a Operação Ubiquidade 2, em Foz do Iguaçu. A ação é um desdobramento da primeira fase, realizada em abril deste ano, e apura um esquema de facilitação da liberação de veículos apreendidos, com participação de um policial civil, além de um empresário e um perito criminal.
Segundo o Ministério Público, o grupo atuava na produção de laudos periciais falsificados para acelerar irregularmente a restituição de veículos roubados e recuperados na região de fronteira.
“Modus operandi era praticamente o mesmo”, diz coordenador do GAECO
O promotor de Justiça Thiago Lisboa Mendonça, coordenador do GAECO em Foz do Iguaçu, explicou que a organização vem sendo investigada desde o ano passado.
“O modus operandi é praticamente o mesmo: a utilização de uma empresa privada do ramo de recuperação de veículos, em conluio com agentes de segurança”, afirmou o promotor.
“Havia um esquema para facilitar a liberação de veículos apreendidos na região, com cobrança de valores das vítimas”, completou.
A empresa intermediava o contato com os donos dos veículos roubados e oferecia o serviço de restituição mediante pagamento.
Pedidos de afastamento negados pelo Judiciário
O promotor revelou que o MP pediu o afastamento do policial civil investigado e a suspensão das atividades da empresa, mas o pedido não foi atendido neste momento.
“O juízo entendeu que seria prematuro. Ainda assim, vamos reiterar os pedidos”, declarou Mendonça.
Não houve solicitação de prisão preventiva devido às exigências legais de contemporaneidade dos fatos.
Delegado detalha esquema: 39 laudos irregulares e perícias enviadas indevidamente a Cascavel
O delegado Marcos Araguari, responsável pela investigação no GAECO, explicou como funcionava o esquema e reforçou o papel do policial civil no processo:
“O policial civil assinava requisições de perícia no lugar do delegado, o que é ilegal, e encaminhava diretamente para um perito em Cascavel”, afirmou Araguari.
O procedimento era duplamente irregular: perícias devem ser requisitadas apenas por delegados e devem ser realizadas na unidade da Polícia Científica da própria circunscrição — no caso, Foz do Iguaçu.
Foram identificados 39 laudos periciais com indícios de falsidade, além de encaminhamentos que driblavam a cadeia formal de comando da Polícia Científica.
“Esses laudos apontavam remarcação de numeração de veículos, algo incomum. E ainda descreviam perícias supostamente realizadas em Cascavel, quando os veículos nunca saíram de Foz”, explicou o delegado.
Endereço de sócio da empresa aparece nas fotos dos veículos
O GAECO identificou que grande parte dos veículos fotografados para os laudos estavam no mesmo endereço em Foz do Iguaçu, pertencente ao sócio do empresário investigado. A residência foi alvo de buscas durante a operação.
Laudo direcionado e veículo montado com peças de dois carros
Um caso chamou atenção dos investigadores:
“Refizemos a perícia com especialistas e descobrimos que o veículo era montado com peças de dois outros carros. O laudo original tinha conclusões que facilitariam a entrega desse veículo específico”, revelou Araguari.
Empresa acionava vítimas antes da polícia
O delegado também destacou uma irregularidade grave:
“Não era a Polícia Civil que avisava as vítimas. Era a empresa, o que é totalmente anormal”, disse.
Algumas vítimas, sem seguro, contratavam o serviço da empresa por desespero para recuperar seus veículos.
Crimes investigados e falhas estruturais
O GAECO aponta falhas administrativas e ausência de fiscalização adequada no setor de veículos da 6ª SDP.
“O policial civil já esteve envolvido na fase 1 e em outras investigações. Agora, mais 39 ofícios irregulares foram identificados”, afirmou Araguari.
Os crimes investigados incluem:
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Associação criminosa
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Falsidade ideológica
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Usurpação de função pública
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Corrupção ativa e corrupção passiva
Investigações continuam
A força-tarefa não descarta novas etapas.
“Nada impede outras fases. As investigações continuam”, concluiu o promotor Thiago Lisboa Mendonça.
GAECO alerta para urgência na criação de Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos
Durante a coletiva, tanto o promotor quanto o delegado destacaram que o esquema revelado pela Operação Ubiquidade 2 expõe uma fragilidade estrutural grave na gestão de veículos apreendidos em Foz do Iguaçu. Atualmente, o setor é administrado por um único agente de polícia judiciária, sem supervisão direta de um delegado — cenário que, segundo o GAECO, favorece a ocorrência de irregularidades.
“Já ficou claro desde a fase 1 que Foz do Iguaçu necessita urgentemente da estruturação de uma delegacia de furtos e roubos de veículos, com um delegado especificamente designado para fiscalizar toda essa situação”, alertou o delegado Marcos Araguari.
O delegado reforçou que a ausência de autoridade policial dedicada permite a usurpação de função, dificulta a fiscalização das perícias e abre brechas para manipulação de procedimentos sensíveis.
“Da maneira como está, o setor fica vulnerável. A criação de uma delegacia especializada traria controle, transparência e impediria que um único agente concentrasse responsabilidades tão delicadas”, afirmou.
Para o GAECO, a implantação imediata dessa delegacia seria uma medida fundamental para coibir novos esquemas, evitar reincidências e garantir maior rigidez na cadeia de custódia de veículos apreendidos.




















































