A construção civil segue aquecida em Foz do Iguaçu, impulsionada por obras de infraestrutura e pelo avanço do setor imobiliário, mas enfrenta obstáculos que podem limitar o ritmo de crescimento. A avaliação é do empresário Paulo Puccinelli, engenheiro civil e um dos nomes mais experientes do mercado regional, que participou de uma entrevista ao Contraponto – A Voz do Povo, da Rádio Cultura Foz.
Com 48 anos de atuação no setor, Puccinelli destacou que o momento é promissor, mas exige cautela. Segundo ele, obras estruturantes como a Perimetral Leste, a duplicação da Rodovia das Cataratas e novos equipamentos turísticos reforçam o dinamismo econômico da cidade, atraindo investidores e estimulando a construção de moradias e empreendimentos comerciais.
Mercado aquecido, mas dependente de juros mais baixos
Apesar da expansão, Puccinelli alerta que o setor sente os efeitos da alta taxa de juros, que encarece financiamentos, reduz a margem de lucro e aumenta o risco para investidores. “Tem muita gente entrando no mercado achando que vai ganhar dinheiro rápido, mas se a obra não for vendida no prazo previsto, os juros simplesmente comem o lucro”, afirmou.
Ele lembrou que já vivenciou projetos extremamente bem-sucedidos, mas também situações em que o retorno esperado não veio — realidade que, segundo ele, precisa ser conhecida pelos novos investidores.
Novos padrões e demanda por imóveis compactos
Outro movimento destacado pelo empresário é a crescente procura por imóveis compactos. No centro da cidade, apartamentos entre 45 m² e 60 m² são os mais desejados, especialmente para locação por temporada. “Hoje, mais de 50% das compras são feitas por investidores focados no Airbnb”, observou.
Nos bairros, o destaque fica para casas geminadas de 50 a 55 m², que se tornaram padrão entre moradores que buscam preço acessível e praticidade.
Falta de terrenos urbanos e custos elevados dos loteamentos
Puccinelli voltou a defender a aplicação do IPTU progressivo para combater terrenos ociosos em áreas centrais. Para ele, deixar grandes áreas vazias no coração da cidade sobrecarrega a infraestrutura pública e empurra a urbanização para regiões cada vez mais distantes. “O custo de levar ônibus, rede elétrica, água e serviços para esses locais é enorme. Isso encarece tudo”, afirmou.
Além disso, os loteadores enfrentam investimentos cada vez maiores para aprovar novos empreendimentos. As exigências atuais incluem pavimentação completa, energia, rede de esgoto e até estações elevatórias, que depois são repassadas para a Sanepar — mas cujo custo inicial recai sobre a iniciativa privada. Ele citou como exemplo uma unidade construída no Jardim Barcelona, orçada em aproximadamente R$ 1 milhão.
Informalidade e burocracia também dificultam o setor
Puccinelli também chamou atenção para a concorrência do mercado informal em materiais brutos, como pedra, areia e tijolo, vendidos sem nota fiscal. Segundo ele, isso prejudica empresas que trabalham dentro da legalidade e ainda inviabiliza parcelamentos de longo prazo devido às margens apertadas somadas aos juros elevados.
A burocracia pública, segundo ele, é outro gargalo. Ele relatou atrasos frequentes na prefeitura e questionou normas recentes, como a lei estadual que exige grandes reservatórios para retenção de água de chuva em prédios de maior porte. Em um caso citado, a exigência seria de um reservatório de 200 mil litros, considerado inviável técnica e economicamente.
Lançamentos e perspectivas
Durante a entrevista, Paulo Puccinelli também apresentou detalhes do Aurum Residence, novo empreendimento lançado na Rua Santos Dumont, ao lado do Hospital Cataratas. O projeto contará com 120 apartamentos distribuídos em 24 pavimentos e uma ampla área de lazer. Há showroom montado com unidades decoradas e duas modalidades de tabela de vendas, incluindo opções para investidores e compradores de longo prazo.
O empresário mantém parceria com a AB Empreendimentos Imobiliários, responsável por obras como o Torre Marechal e o Tarumã, ambos com grande adesão do mercado.
Mesmo com os desafios, Puccinelli acredita que Foz do Iguaçu seguirá atraindo investimentos e mantendo um ritmo acima da média nacional na construção civil. “A cidade está em um ciclo de desenvolvimento muito forte. Quem souber se planejar e entender os riscos vai encontrar ótimas oportunidades”, concluiu.
