A Câmara Municipal de Foz do Iguaçu enfrenta uma das maiores crises de sua história recente. O presidente da Casa, Paulo Aparecido de Souza (Paulo Debrito), é alvo de uma série de denúncias que revelam possíveis crimes, irregularidades éticas e abuso de poder, envolvendo desde falsificação de documentos até censura à imprensa e intolerância religiosa. As acusações foram reunidas em uma representação que pede o afastamento imediato do presidente, sob o argumento de que suas ações colocam em risco a integridade institucional do Legislativo.
O primeiro caso envolve a nomeação de assessores com diplomas falsos. Em 2025, dois assessores ligados aos vereadores Cabo Cassol e Dr. Ranieri foram flagrados com documentos fraudulentos de ensino médio. Um deles, Adilson Ramão, confessou o crime publicamente, mas Paulo Debrito se recusou a exonerá-lo, determinando o arquivamento do processo.
Em outro episódio, o assessor Leandro Pinto também foi acusado de usar diploma falso e só foi afastado após pressão da imprensa e do Ministério Público. O presidente, segundo registros e declarações públicas, sinalizou nova intenção de arquivamento, o que poderia configurar prevaricação, conivência e violação do dever de probidade administrativa.
Outro episódio grave é a denúncia de que Paulo Debrito legislou em causa própria ao propor projeto que reduziu a distância mínima entre outdoors eletrônicos na cidade. A mudança beneficiaria empresas de publicidade, entre elas uma supostamente administrada pelo marido de sua chefe de gabinete.
A situação aponta para conflito de interesses e desvio de finalidade, condutas que podem se enquadrar como ato de improbidade administrativa, por ferirem os princípios da moralidade e da impessoalidade previstos na Constituição Federal.
Em outro caso, o presidente foi autor de projeto que cria gratificação mensal de até R$ 6.136 para servidores cedidos à Câmara. O benefício, contudo, teria sido desenhado para favorecer diretamente um ex-sócio de Debrito, Jefferson Cezar Bueno. A denúncia sustenta que o ato configura uso do cargo para beneficiar terceiros com quem o agente mantém vínculo pessoal e empresarial violando a Lei de Improbidade Administrativa.
Em agosto de 2025, sob a justificativa de “organizar a circulação de impressos”, Paulo Debrito assinou ato que obriga a autorização prévia para distribuição de jornais dentro da Câmara. A medida foi interpretada como censura institucionalizada e retaliação direta ao Jornal Tribuna Popular, que vinha publicando reportagens críticas à gestão. A decisão também vai de encontro à Constituição Federal, que asseguram a liberdade de expressão e vedam qualquer tipo de censura, além de violar o Código de Ética Parlamentar da Câmara.
Em julho, o vereador Adnan El Sayed denunciou ter sofrido pressão e ameaça política do presidente após propor a criação da Frente Parlamentar pela Saúde Infantil. Paulo Debrito teria tentado convencê-lo a desistir da proposta e, diante da recusa, extinguiu todas as frentes parlamentares da Casa em ato unilateral.
A decisão foi vista como abuso de poder e violação ao princípio democrático, restringindo o direito de representação e o funcionamento regular do Legislativo.
Em janeiro, após ser alvo de denúncia, o presidente autorizou a publicação de uma nota oficial da Câmara em sua própria defesa, usando o canal institucional para rebater acusações pessoais. A prática é classificada como desvio de finalidade e promoção pessoal com recursos públicos, violando a Lei de Improbidade e a Lei de Acesso à Informação.
O caso mais recente envolve intolerância religiosa. Em sessão de agosto, Paulo Debrito dirigiu-se à vereadora Anice Gazzaoui em tom discriminatório após ouvi-la dialogar em árabe no plenário, afirmando: “eu sou pai de família, eu sou cristão”. O episódio, registrado em vídeo, foi denunciado como ato de discriminação religiosa e violência política de gênero.
Diante da soma de acusações, foi protocolado na Câmara na noite desta terça-feira, 14, um pedido de investigação da conduta do presidente e afastamento liminar do cargo na mesa diretora. “Os casos expõem uma sequência de atos que misturam irregularidade administrativa, conflito de interesse e condutas potencialmente criminosas, levantando dúvidas sobre a legitimidade e a moralidade da atual gestão do Legislativo municipal”, justificou o jornalista Ed Queiroz, que assina a denúncia.
Se confirmadas as infrações, Paulo Debrito pode responder por crimes de falsidade ideológica, improbidade administrativa, abuso de autoridade, censura e discriminação religiosa, além de sofrer processo de cassação e inelegibilidade política. O presidente da Câmara afirmou à reportagem da Rádio Cultura que ainda não tem conhecimento da denúncia e, que após, ler o pedido, vai se manifestar.