Foz do Iguaçu vive um paradoxo urbano. De um lado, o município se consolida como polo turístico internacional e destino promissor para investidores do setor imobiliário. De outro, milhares de famílias iguaçuenses ainda aguardam a chance de conquistar uma moradia digna. O crescimento econômico e o avanço da construção civil, que poderiam beneficiar toda a população, têm reforçado um modelo de cidade voltado às elites e ao turismo — e não à inclusão social.
Em 2025, o Fozhabita, órgão responsável pela política habitacional da cidade, colheu resultados de iniciativas da gestão anterior: foram 100 casas entregues no Conjunto Habitacional Lagoa Dourada, com apoio da Cohapar; 512 apartamentos em convênio com a Caixa Econômica Federal, no programa Minha Casa Minha Vida; 42 novas moradias pelo Programa Pró-Moradia, e 254 unidades do Convênio Moradias, parceria entre Itaipu Binacional, Itaipu Parquetec e a prefeitura. Essa última ação, voltada às famílias da antiga Vila Brás, usa tecnologia construtiva inovadora em wood frame e representa um esforço real de resposta à vulnerabilidade habitacional.
Apesar desses avanços, segundo ofício enviado à Câmara de Vereadores, a demanda por habitação ainda é imensa. O cadastro do Fozhabita contabiliza 10.587 famílias inscritas, das quais 3.185 estão aptas a participar dos programas — e 612 dessas incluem pessoas com deficiência (PCDs). Os números evidenciam uma desigualdade persistente entre a necessidade social e a capacidade de oferta de moradias populares.
Nos últimos anos, Foz do Iguaçu assistiu à explosão dos investimentos em locações por temporada, especialmente voltados ao turismo internacional. Essa tendência aqueceu o mercado, mas encareceu o solo urbano e reduziu a disponibilidade de terrenos para projetos sociais. O resultado é um mercado imobiliário voltado à renda média e alta, enquanto as famílias de baixa renda são empurradas para as periferias ou para situações precárias de moradia.
A valorização da terra tem causas estruturais: além da especulação, a cidade enfrenta limitações geográficas e ambientais — o Lago de Itaipu e as áreas de preservação permanente restringem novas expansões urbanas. Com menos áreas disponíveis e valores em alta, o custo da habitação popular cresce e a política pública perde capacidade de resposta.
A cidade corre o risco de se transformar em um espaço de oportunidades apenas para investidores, enquanto os trabalhadores do turismo, da construção civil e dos serviços básicos — que sustentam a economia local — permanecem sem acesso a um lar digno.
Sem políticas mais firmes de controle da especulação imobiliária, reserva de áreas para habitação social e subsídios territoriais, os programas habitacionais correm o risco de se tornar paliativos.
Foz do Iguaçu cresce, se valoriza e se moderniza — mas o desafio que se impõe é garantir que esse crescimento não custe o direito à moradia de quem faz a cidade acontecer.