Sintonizando…

Memória afetiva em tempos de tanta tecnologia!

Print do vídeo recebido por e-mail de Ariel Osvaldo Torres

Esta semana recebi um e-mail que despertou em mim uma memória afetiva daquelas que aquecem o coração e enchem de lembranças boas. Em tempos tão tecnológicos, de internet veloz, aplicativos e mensagens instantâneas, descobrir que o rádio continua sendo sintonizado — e a longas distâncias — foi emocionante. Resolvi dividir essa lembrança aqui com vocês.

Quando criança, no comecinho dos anos 1980, eu e minha família morávamos em Guaíra, no Paraná. Em casa já tínhamos alguns eletrônicos que eram o máximo na época: uma filmadora Super 8 com projetor de slides, máquina fotográfica, toca-discos, toca-fitas, uma TV de tubo enorme, de 29 polegadas, além de rádios e o telefone fixo. Meu pai adorava tecnologia. Sempre que podia, comprava uma novidade para registrar a vida da família. Mas hoje não quero falar das modernidades que tínhamos em casa — e sim do poder da comunicação.

Naquele tempo, meu pai foi transferido (por seis meses) para Lábrea, uma cidade pequenina no interior do Amazonas. Estar longe nos obrigava a inventar jeitos de seguir próximos. As cartas, o telex e o telegrama ajudavam, mas eram lentos. O telefone ainda era considerado um artigo de luxo: dependia da rede de cabos e nem sempre estava disponível. Foi então que descobrimos outra forma de nos falar: o rádio amador, o famoso PX.

No começo, usávamos os rádios de alguns caminhoneiros conhecidos. Depois, minha mãe comprou um aparelho e instalou no nosso carro — com direito àquela antena enorme presa na janela. Foi assim que meu pai voltou a nos desejar boa-noite todos os dias, mesmo de tão longe. Não era igual ao que acontecia quando ele estava em casa, mas tinha o mesmo carinho e a mesma atenção. Nós três, filhas, contávamos a ele o que aprendíamos na escola, as novas brincadeiras e descobertas da infância. Era o nosso momento em família. Um ritual que, de certa forma, repetimos hoje com as chamadas de vídeo no celular.

Sintonizando manualmente, para a esquerda e para a direita, mantínhamos vivos os laços que sempre foram — e continuam sendo — tão valiosos para nós. Hoje, já adultas, repetimos nossos encontros, só nós quatro: minha mãe, minhas irmãs e eu. Meu pai já partiu para a Grande Morada, mas segue presente nas histórias que deixou: nas mensagens de voz que gravava, nos vídeos que filmava, nas cartas que escrevia para cada uma de nós. Ele segue vivo em nossas memórias tão nítidas.

A comunicação tem disso: aproxima o que está a quilômetros de distância, cria presença onde havia ausência, une pessoas, costumes e sonhos que atravessam fronteiras e culturas.

Foi nesse espírito que recebi a mensagem do senhor Ariel, um argentino de Buenos Aires. Ele contou que, durante uma viagem, em um dos seus momentos de hobby de escuta, conseguiu sintonizar a Rádio Cultura Foz em Arambaré, no Rio Grande do Sul — a mais de 670 quilômetros, em linha reta, de Foz do Iguaçu. A foto desta publicação é dele: um registro simples, mas cheio de significado, com seu rádio portátil sintonizado na frequência AM 820.

É isso que o rádio nos ensina: a sintonia vai além dos botões digitais! A comunicação segue resiliente, adaptando-se às novas redes, mas se perpetuando em meio aos cliques rápidos da modernidade.

Obrigada, senhor Ariel pelas memórias ativadas!

Que possamos ter, cada vez mais, atitudes construtivas e que atuem como instrumentos de boas lembranças.

Até o próximo porto, aqui no Navega Cultura!

Com afeto,

Estella Parisotto Lucas

Sair da versão mobile