Uma paciente aguarda por cirurgia ginecológica desde o longínquo ano de 2009 e, segundo informações publicadas no Portal da Transparência da Prefeitura de Foz, a mulher tem prioridade clínica, mas pelos registros ela ainda não foi submetida ao procedimento. A lista não traz os nomes dos pacientes, apenas número de protocolo e data de entrada na lista de espera.
Assim como esta cidadã, existem outras 132.522 pessoas aguardando por consultas com especialistas, exames e cirurgias. A lista é interminável e inclui situações graves como cirurgias neurológicas e consultas para fechar diagnósticos que podem ser bastante sérios. Para além de fazer um exercício de tentar imaginar qual caso mais sério, é certo que todos que aguardam têm necessidade de atendimento médico de qualidade e em tempo razoável para garantir sua saúde e, em muitos casos, preservar suas vidas.
As filas da dor como são conhecidas as longas listas de esperas por atendimento médico não começaram a se formar neste governo. É uma herança de diversas administrações que não deram à saúde a prioridade necessária.
Problemas médicos não resolvidos têm infindáveis consequências – não apenas na qualidade de vida do paciente – mas na sua produtividade, relacionamento com o meio em que vive e, dependendo da doença que o acomete, pode desencadear outros males, o que faz subir ainda mais sua dependência de atendimento médico/hospitalar.
A inoperância do município obriga muitos pacientes e familiares a buscarem ajuda no Ministério Público e a situação se agravou após o período pandêmico, com as muitas demandas consequentes dos pacientes que tiveram Covid-19. Segundo o promotor Luis Marcelo Mafra, os pedidos de ajuizamento de ações para serviços de saúde quase dobrou após a pandemia.
Quando a família possui alguma condição financeira não é rara a contratação de planos de saúde ou atendimento particular que acabam comprometendo o orçamento familiar e até dilapidando patrimônios, tudo em busca da melhoria da saúde de um ente querido.
As demandas mais numerosas são: 11.226 pacientes aguardando pelo acolhimento psicológico (primeiro atendimento); 7.082 necessitando radiografia; 3.890 pessoas precisam fazer cirurgia bucomaxilofacial de algum trauma; 1.984 pacientes esperando para implantação de prótese dentária. São centenas de demandas de todas as naturezas, algumas com mais de duas mil pessoas na fila.
O número de pacientes adultos e infantis que aguardam por consulta com psiquiatra também é muito grande, mais de 3.500. Isso demonstra que a saúde mental vem sendo subestimada pelos programas de atendimento nas unidades básicas de saúde e centro de especialidades.
A reportagem da Rádio Cultura entrou em contato com o secretário de Saúde, Fábio de Mello, mas até o fechamento desta reportagem ele não havia retornado nossas mensagens.