Paulo Leminski

Um redemoinho de palavras.

Foto de Dico Kremer em BBC.com - Paulo Leminski

Paulo Leminski nasceu em Curitiba, em 1944, e desde cedo parecia ter dentro de si um redemoinho de palavras, imagens e ritmos. Filho de mãe paulista com origem negra e indígena e pai descendente de poloneses, carregava na própria origem a mistura que marcaria toda a sua vida: tradição e rebeldia, rigor e invenção, liberdade pulsante.

Poeta, tradutor, romancista, letrista, publicitário, faixa preta em judô. Leminski nunca foi só uma coisa, nunca aceitou viver dentro de uma gaveta. Preferia se espalhar. Sua poesia tem muito disso: curta como um haicai*, mas profunda como um mergulho no abismo. “Um bom poema é aquele que nos dá a impressão de que está lendo a gente… e não o contrário”, ele dizia, e era exatamente assim que escrevia: como quem devassa, com ternura e ironia, as inquietações humanas.

Amava os haicais japoneses e traduziu o poeta nipônico Bashô, mas também se jogava no universo pop, nas letras de música, na propaganda, no jornalismo. Fazia da linguagem um brinquedo e uma arma. Foi parceiro de grandes nomes da música brasileira e sua relação com a palavra nunca se limitou à literatura — era um jeito de viver.

Me parece que na vida pessoal, era tão intenso quanto em sua obra. Viveu uma relação profunda e criativa com a poeta Alice Ruiz, com quem teve três filhos. Essa parceria também se refletiu em trocas literárias e na paixão compartilhada pela poesia curta, pela síntese.

Nos anos 80, quando lançou Caprichos & Relaxos e Distraídos Venceremos, conquistou leitores que talvez não se vissem como “leitores de poesia”. Ele fez da poesia algo próximo, imediato, uma espécie de música que cabia no bolso.

Leminski partiu cedo, em 1989, aos 44 anos, mas deixou um rastro que continua vivo.

Sua obra segue sendo descoberta como quem encontra um bilhete no fundo da gaveta — sempre surpreendente, sempre atual. Ele mesmo escreveu:

“aquilo de querer ser
exatamente aquilo
que a gente é
ainda vai
nos levar além”

E Leminski foi além. Transformou a literatura brasileira em algo mais livre, mais aberto, mais atrevido, tão rápido! Parece até que sabia que seria breve.

“Tenho a impressão
que já disse tudo.
E tudo foi tão de repente.”

___ Paulo Leminski

Sobre o Haicai, “Haiku” ou “Haikai”*

Antes de finalizar, compartilho com vocês um texto de Daniela Diana, professora licenciada em Letras, explicando sobre as especificidades do poema japonês, publicado no site Toda Matéria.

O Haicai, também chamado de “Haiku” ou “Haikai”, é um poema curto de origem japonesa.

A palavra haicai é formada por dois termos “hai” (brincadeira, gracejo) e “kai” (harmonia, realização), ou seja, representa um poema humorístico.

Essa forma poética foi criada no século XVI e acabou se popularizando pelo mundo. Apesar de serem poemas concisos e objetivos, os haicais possuem grande carga poética. Os autores que escrevem os haicais são chamados de haicaístas.

Estrutura e características do Haicai

O tradicional haicai japonês possui uma estrutura específica, ou seja, uma forma fixa composta de três versos (terceto) formados por 17 sílabas poéticas, ou seja:

Embora essa seja sua estrutura tradicional, o haicai foi se modificando com o tempo, sendo que alguns escritores não seguem esse padrão de sílabas, ou seja, possui uma silabação livre, geralmente com dois versos mais curtos e um mais longo.

Os haicais são poemas objetivos com uma linguagem simples e podem ou não apresentarem um esquema de rimas e títulos. Os temas mais explorados nos haicais são referentes ao cotidiano e à natureza.

Além da mudança de estrutura, os haicais modernos podem explorar outros temas como o amor, problemas sociais, sentimentos do eu lírico, dentre outros.

Lembre-se que a contagem de sílabas poéticas difere da separação gramatical.

O Haicai no Brasil

O haicai chegou ao Brasil no século XX, por influência francesa, sendo também trazido pelos imigrantes japoneses.

O teórico literário Afrânio Peixoto foi um dos primeiros a apresentar essa forma poética no país, quando a compara com as trovas no ensaio “Trovas Populares Brasileiras”, escrito em 1919. Nas palavras do autor:

Os japoneses possuem uma forma elementar de arte, mais simples ainda que a nossa trova popular: é o haikai, palavra que nós ocidentais não sabemos traduzir senão com ênfase, é o epigrama lírico. São tercetos breves, versos de cinco, sete e cinco pés, ao todo dezessete sílabas. Nesses moldes vazam, entretanto, emoções, imagens, comparações, sugestões, suspiros, desejos, sonhos… de encanto intraduzível.

Atualmente, muitos escritores aderiram ao estilo, sendo que os nomes mais representativos de haicaístas no Brasil são:

Daniela Diana

Haicais em Foz do Iguaçu

Em Foz do Iguaçu, o jornalista e escritor de poesias e haicais Gilmar Piolla lançou, em maio de 2025, o seu livro Ecos da Inquietude com “haicais que capturam o instante, o sopro, o incômodo – aquilo que nos move por dentro” como o próprio haicaísta descreve e escreve em Reflexo:

“No espelho, eu sou
a sombra da minha imagem – 
quem sou eu, afinal?

 ___ Gilmar Piolla

 

Por Estella Parisotto Lucas

Navega Cultura

 

FONTES:
Foto Paulo Leminski: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c2xxp1yz8rno
Texto sobre Paulo Leminski e Gilmar Piolla: Estella Parisotto Lucas
Texto de Daniela Diana em Toda Matéria: https://www.todamateria.com.br/o-que-e-haicai/
Haicai – Gilmar Piolla: https://www.instagram.com/reel/DKhp6EPxFoz/?igsh=NDUyZjg1MTZkbXY5
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