O réu David Martens, 37 anos, falou hoje, pela primeira vez, sobre o atropelamento que vitimou pai e filho, no dia 17 de março, no semáforo da Avenida JK, por volta das 5h20. As vítimas Gilberto de Almeida, 59 anos e seu filho Alexsandro Leal de Almeida, de 29 anos, estavam numa moto, parados num sinaleiro, aguardando o semáforo abrir, quando foram violentamente colhidos por um veículo Chevrolet Cobalt dirigido pelo acusado.
Em seu depoimento à juíza Danuza Zorzi, ele alegou que esqueceu de alguns acontecimentos daquele dia, que bebeu muito pouco e que não dirigiu em alta velocidade. Ele contou que foi até o primeiro estabelecimento, localizado na Vila A, onde encontrou com um amigo e tomou um pouco de cerveja. O réu evitou dar detalhes do quanto bebeu e também das despesas daquela noite. Sempre alegando que as cervejas pagas com seu cartão de crédito não foram integralmente consumidas por ele. “Não me lembro o horário de chegada, de saída e quantas cervejas eu tomei, mas sei que foram poucas, pois não sou de beber muito”, afirmou.
A juíza quis saber onde o rapaz estava entre o horário que saiu do bar e chegou até a casa noturna, no Centro de Foz. Martens não forneceu horários precisos, nem explicou o período de algumas horas entre um programa e outro, dizendo apenas que não foi para casa de sua mãe, onde mora ‘de favor’, apenas encontrou um amigo do Paraguai e ficou trocando mensagens com a mulher que tinha conhecido poucos minutos antes, no bar da Vila A.
Ele prosseguiu dizendo que por insistência desta conhecida foi até a casa noturna Lobby e que lá tomou menos de duas cervejas: “as cervejas que eu paguei ela praticamente consumiu sozinha”. De lá ele teria ido até um carrinho de lanche, onde comeu um sanduíche e tomou um refrigerante e depois descansou um pouco antes de ir para casa. A magistrada o interrogou sobre onde e por quanto tempo descansou, ao que ele respondeu: dentro do carro, por uns cinco, dez minutos. Depois disso ele pegou o carro e estava se dirigindo para a casa da mãe, que mora num condomínio na região da Vila A.
Sobre o acidente especificamente, Martens diz se lembrar pouco. Alega que as obras no canteiro e o estreitamento da pista formaram um ponto cego que o impediu de ver a moto parada. “Não deu tempo nem de frear, por isso a batida foi tão forte”, tentou explicar.
Disse ter ficado em choque quando viu os corpos já sem vida no asfalto e que, desnorteado, pediu para alguém ligar para o socorro e ligou para um amigo advogado. Segundo ele o amigo advogado é quem teria orientado a deixar o local do acidente e não se lembra de ter negado sua identificação para os guardas municipais. “Nesse momento a gente não consegue pensar. Não lembra nem do nome”, se lamentou.
O acidente, em sua descrição, acabou com sua vida. Alegou que perdeu emprego, não tem mais vida social e que a imprensa já o condenou. “Eu queria muito ter ido pedir perdão à família, mas depois do que a mídia publicou não tive condições. Eu vivo com medo”, declarou. Contou ainda que está tomando medicamentos para depressão e que tentou duas vezes tirar a própria vida.
Também repetiu inúmeras vezes o questionamento: “por que a vida fez isso comigo?”, demonstrando que trata a situação como um acontecimento fortuito e não um acidente provocado pelo seu provável estado alcoólico e pelo qual teria total responsabilidade.
Antes de Martens falar, um ex-colega de trabalho, com quem ele se encontrou no bar da Vila A, foi ouvido como sua testemunha. O rapaz confirmou o encontro, o consumo de álcool e a versão de que o réu não costuma beber em grandes quantidades.
Agora o processo vai para as alegações finais que é a última manifestação de defesa e acusação antes de a juíza sentenciar o caso. O Ministério Público pede que o caso seja remetido ao Tribunal do Júri, que julga casos de crimes contra a vida. Já a defesa do réu pede que ele seja julgado por homicídio culposo, de acordo com o Código Brasileiro de Trânsito.