O delegado Marcelo Pereira Dias, responsável pelas investigações do homicídio que chocou Foz do Iguaçu, revelou detalhes sobre o crime cometido por um homem contra o amante da própria esposa na Vila C, no dia 03 de setembro.
O caso, marcado por extrema violência, resultou na prisão preventiva do autor, decretada pela Justiça após pedido da Polícia Civil e parecer favorável do Ministério Público.
Segundo o delegado, a decisão foi baseada na gravidade das agressões, no risco de reiteração criminosa e na necessidade de proteger a esposa do acusado, considerada a principal testemunha.
Histórico de violência
O crime não foi o primeiro episódio envolvendo o acusado e a vítima. Em setembro de 2023, o suspeito já havia descoberto a relação extraconjugal da esposa com o mesmo homem e, naquele contexto, partiu para agressões físicas. Na época, a mulher preferiu não representar criminalmente contra o marido, o que, segundo o delegado, contribuiu para a reincidência da violência.
“Há um risco concreto de repetição de condutas criminosas, pois já havia um histórico anterior de agressão envolvendo exatamente as mesmas pessoas”, explicou Marcelo Pereira Dias.
O que disse o acusado
Em depoimento, o suspeito optou por prestar apenas um relato livre, orientado por sua defesa, sem responder a perguntas formais da polícia. Ele alegou que, na manhã do crime, havia saído para o trabalho com a filha mais velha, mas precisou voltar para casa para buscar um cartão de alimentação.
Ao chegar, percebeu um carro estacionado em frente à residência, mas não desconfiou de nada. Disse que, ao entrar, desligou a energia elétrica para reduzir o barulho do ar-condicionado e, ao abrir a porta do quarto, encontrou a vítima nua em sua cama.
Segundo ele, após uma discussão, teria sido ameaçado de morte. Relatou que foi até a cozinha, pegou uma faca e iniciou-se a luta corporal. O acusado apresentou escoriações nas mãos, compatíveis com confronto físico, e disse ter furado os pneus do carro da vítima para evitar ser perseguido.
Ele ainda afirmou que sofreu um “apagão”, não lembrando com clareza os momentos finais da briga, nem de ter tomado banho ou se arrumado antes de sair.
O relato da esposa
A versão da esposa é mais detalhada e contradiz parte do depoimento do marido. Segundo ela, estava dormindo com a vítima quando ouviu um barulho, semelhante a curto-circuito, e a casa ficou às escuras. Ao sair do banheiro, percebeu um vulto, que seria o marido já de posse de duas facas.
De acordo com o relato, o acusado teria surpreendido a vítima em estado de vulnerabilidade, ainda deitada. O confronto se espalhou por toda a casa, deixando marcas de sangue no quarto, corredor, cozinha, quintal e até na área externa do veículo.
A esposa contou que a vítima chegou a tomar uma das facas das mãos do agressor e o derrubou. Em meio à luta, cadeiras foram arremessadas, ela tentou intervir várias vezes, mas acabou empurrada. Disse ainda que, a cada momento em que se distraía, o marido aproveitava para desferir novos ataques.
Mesmo já ferido e caído no quintal, incapaz de reagir, o amante continuou recebendo golpes. A testemunha relatou que o acusado chegou a chutar a cabeça da vítima, que agonizava e se esvaía em sangue.
Após o crime, o homem teria tomado banho, colocado o uniforme da empresa e saído de motocicleta. Ele não foi encontrado no trabalho nem na casa de familiares.
Crime qualificado
Para o delegado, os elementos apontam para homicídio qualificado, tanto pelo uso de meio cruel — que prolongou o sofrimento da vítima — quanto pela impossibilidade de defesa, já que foi surpreendida em situação de vulnerabilidade.
“Estamos aguardando laudos periciais, mas os indícios mostram que a vítima sofreu uma agonia prolongada, possivelmente com causa da morte ligada a hemorragia aguda por múltiplos ferimentos de faca”, afirmou Dias.