Opinião I Por Ahmad Nagib Al Ghazaoui
A recente decisão do governo dos Estados Unidos de impor uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros a partir de agosto gerou, naturalmente, reações imediatas. O comércio, a logística e o setor empresarial de Foz do Iguaçu acompanham atentos as repercussões dessa medida.
No entanto, é preciso separar os fatos do alarde e evitar análises precipitadas sobre os impactos diretos na Tríplice Fronteira.
Nem tudo passa por Foz
O primeiro ponto que merece uma análise mais efetiva é o foco dado ao papel de Foz do Iguaçu como rota de exportação dos produtos afetados. Carnes, café, aço e aviões da Embraer não saem da fronteira oeste paranaense rumo aos Estados Unidos. O fluxo principal dessas mercadorias se dá por portos marítimos e aeroportos em outras regiões do país. A logística de Foz está muito mais ligada ao comércio regional e à importação de produtos paraguaios.
Portanto, o risco de “colapso logístico” ou de perda da função de escoamento é, neste momento, um exagero.
O dólar mais caro não é novidade
O câmbio já vinha sofrendo oscilações antes mesmo do anúncio da tarifa. Eleições nos EUA, cenário econômico brasileiro, juros globais e fatores geopolíticos contribuem muito mais para a alta do dólar do que a decisão tarifária de Trump. Dizer que a tarifa, por si só, vai disparar o dólar e travar o turismo, como alguns meios de comunicação da fronteira propagaram é, no mínimo, uma leitura simplista.
Além disso, o dólar forte também traz um efeito colateral positivo para a economia local: torna o comércio da fronteira mais atrativo para turistas argentinos e brasileiros em busca de produtos mais baratos no Paraguai, mesmo com as variações cambiais.
Contrabando é um problema crônico, não conjuntural
O risco de aumento do contrabando, destacado nestes mesmos meios de comunicação, é uma preocupação constante na fronteira. Mas ele não decorre diretamente da tarifa americana, e sim da falta de fiscalização, da economia informal e da dificuldade em gerar empregos formais e oportunidades locais. Jogar esse problema nas costas de uma medida internacional é terceirizar a responsabilidade do enfrentamento cotidiano da ilegalidade.
Hora de buscar novos mercados
O Brasil, e também a região de Foz, têm diante de si uma oportunidade de diversificação. Se os EUA impõem barreiras, o caminho é ampliar relações comerciais com a Ásia, Europa, Oriente Médio e outros mercados emergentes. Isso pode, inclusive, abrir novas rotas logísticas e ampliar o papel estratégico da fronteira.
O turismo está em expansão, não em retração
Lojas, hotéis, restaurantes e atrativos turísticos de Foz do Iguaçu e Ciudad del Este vêm registrando crescimento nos últimos meses. Novos hotéis estão sendo inaugurados, o setor gastronômico vive uma fase de ouro, e a retomada pós-pandemia trouxe resultados que não devem ser minimizados por um episódio pontual da geopolítica internacional.
Conclusão
O cenário exige cautela, sim. Mas não cabe à imprensa ou aos setores empresariais fomentar pânico ou previsões catastróficas sem respaldo real.
É momento de diálogo, planejamento e inteligência estratégica para transformar a crise em oportunidade.
A fronteira não pode ser refém do alarmismo. Precisa ser protagonista da solução.