Fernando Pessoa, o grande escritor português, um dos maiores da literatura mundial, inspirado em uma citação atribuída ao general romano Pompeu escreveu em um poema: “Navegar é preciso, viver não é preciso.”
Intencionalmente, ou não, Pessoa, o poeta, trocou o verbo da citação original, dita por Pompeu em um daqueles momentos únicos, em que o movimento é a única opção, que na tentativa de salvar Roma disse: “Navegar é necessário, viver não é necessário.”
E o que poderia ser, aparentemente, simples de entender, torna-se ainda mais dual. Afinal, necessária ou precisa, jamais saberemos o que por ele, Pessoa, foi pensado. São inúmeras as possibilidades. O que fica é o olhar para a ação de permitir-se navegar.
Da bússola ao compasso. Dos planos aos momentos caóticos, das boas notícias e brilhos nos olhares ao pranto e a tristeza infindável…
De um porto ao outro, há precisão, mesmo que indireta, mesmo que não garantida. Sabemos que há o porto, a saída e a chegada, assim como sabemos que as duas grandes certezas da vida são o nascimento (para os que conseguem nascer) e a morte, inevitável fim desta jornada.
De ponto a ponto, do início ao fim, o que conta mesmo é o que conseguimos viver num percurso tão incerto, mesmo que planejado. Quem nunca pensou o que faria ou deixaria de fazer em determinado momento e foi surpreendido pelo real que chegou e atravessou todos os mares idealizados?
De mar a mar, o convite que faço é o de navegarmos pelas 7 artes, pelo que traz inquietude, pelo que toca o coração e acalenta a alma. Assim, o que torna-se necessário é a arte de viver! E viver bem!
Conto com a sua companhia, aqui no Navega Cultura, de porto a porto, começando hoje pelo da literatura, a arte das palavras e que costumo dizer, das benditas… as bem ditas palavras.
Até a próxima parada!
Com afeto,
Estella Parisotto Lucas
“Navegar é Preciso
Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:
“Navegar é preciso; viver não é preciso”.
Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:
Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.
Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.
Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir para a evolução da humanidade.
É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.”
___ FERNANDO PESSOA
[Nota de SF “Navigare necesse; vivere non est necesse” – latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]
FONTE:
Fernando Pessoa Navegar é Preciso. Portal Domínio Público. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/jp000001.pdf Acesso em: 10 de julho de 2025.