Rally dos Sertões dá a largada em Foz do Iguaçu rumo a Salinópolis, no Pará

Imagem: Dante Quadra

Hora de levantar poeira pelo Brasil. A partir deste sábado (27) a caravana do Sertões BRB 30 anos parte para a primeira de 14 etapas do maior rally do mundo, que começa a desafiar os competidores com o percurso que liga Foz do Iguaçu a Umuarama, ainda no Paraná. São 366 quilômetros, 173 cronometrados atravessando fazendas de soja, com predominância de cascalho, alguns trechos de pedras e muitas lombadas. Com 7.202km pela frente até Salinópolis (PA), onde chega dia 10/9, ainda não é hora de arriscar tudo. Por outro lado, com o equilíbrio esperado para a disputa, é fundamental iniciar bem.

Equilíbrio, aliás, que ficou evidente nas disputas do prólogo e do Super Prime. Que serviram ‘apenas’ para definir a ordem de largada da especial de abertura, mas já levantaram poeira e deram uma prévia do que vem pela frente. Tanto um quanto o outro foram disputados em marcos de Foz – o primeiro no Parque Nacional do Iguaçu, junto ao estacionamento do acesso às Cataratas; o segundo no Marco das Três Fronteiras.

Os oito melhores de cada modalidade no prólogo avançaram à disputa do Prime, em confrontos eliminatórios numa pista de 1.200m com traçados paralelos. Um circuito desenhado para garantir espetáculo e prender a atenção do público, como, aliás, foi o caso. Os vencedores ganharam o direito de escolher sua posição de partida – ser o primeiro a largar para o trecho cronometrado na maioria das vezes é uma desvantagem.

Nas motos, a final colocou lado a lado o atual campeão Adrian Metge (Yamaha) e o estreante Gabriel Soares, o Tomate (Honda). Com formação no motocross e experiência no Enduro FIM, o mineiro Tomate levou a melhor e ainda mostrou seu talento nos saltos e manobras.

Nos UTVs, problemas mecânicos impediram o avanço de destaques como os atuais bicampeões Deninho Casarini/Ivo Mayer (Cam-Am Factory) à decisão do Super Prime. Bruno Varela/Gustavo Borotolanza (Varela Racing) até chegaram ao duelo decisivo, mas nem chegaram a largar. Melhor para André Hort/Gustavo Bortolanza (MH Racing).

Já entre os carros, Lucas Moraes/Kaíque Bentivoglio (MEM Motorsport) fizeram bom uso de uma das máquinas mais modernas e desenvolvidas do grid: a Toyota Hilux Overdrive T1+. Em um confronto de campeões, os de 2019 bateram Marcos Baumgart/Kleber Cincea (X Rally), melhores em 2020.

Roteiro

O roteiro definido para uma edição histórica, que faz do Sertões BRB 2022 o maior rally do mundo, é uma ode aos diversos Brasis. Uma proposta que surgiu através da ideia de ligar, com a devida licença poética, o Chuí ao Oiapoque. Que se concretizou nas 14 etapas atravessando oito estados e os cinco biomas do país: pela ordem, Mata Atlântica, Pantanal, Cerrado, Caatinga e Floresta Amazônica.

Variedade que se reflete não só nas paisagens, mas também nas características das especiais cronometradas (tipos de piso, altimetria, trechos mais travados ou abertos, navegação mais ou menos exigente). Especiais que, aliás, ganharam seus nomes das estrofes do Hino Nacional, uma forma de destacar e celebrar o Bicentenário da Independência, também uma inspiração para o Sertões BRB 30 Anos.

Com tantos superlativos, pilotos e navegadores já sabem: a velocidade é o que conta, mas poupar o equipamento e encarar a prova como uma competição de resistência serão fundamentais, não só para ir ao alto do pódio, como também conseguir chegar às areias paraenses.

Etapa 1 – Florão da América – 27/8 – Sábado

Foz do Iguaçu (PR) – Umuarama (PR)

DI – 20 km

TE – 173 km

DF – 173 km

TOTAL: 366 km

* DI = Deslocamento inicial. TE = Trecho Especial. DF = Deslocamento Final.

Do alto de uma das 7 Maravilhas da Natureza e Patrimônio da Humanidade: as cataratas do Rio Iguaçu, é possível ver outros dois países irmãos do Brasil: Argentina e Paraguai. Daí a inspiração para o nome da etapa: Florão da América! Um título que “abre os trabalhos” do maior rally do mundo trazendo o Brasil como parte fundamental e protagonista da América do Sul. Algo que muitas vezes nos esquecemos, devido à nossa barreira de língua com os “hermanos”.

Tecnicamente, a etapa segue pela região agrícola do Paraná, com destaque para os campos de soja, e pode ser descrita como uma etapa “técnica e traiçoeira” sendo predominantemente com piso de cascalho com alguns trechos de pedra lembrando as etapas do WRC. Ah! Se pudéssemos dar uma dica para os competidores seria: cuidem das costas! Essa etapa é recheada de “lombas”, lombadas tamanho cataratas do Iguaçu para sacudir os pilotos e navegadores.

Chacoalhadas à parte, a estrela da etapa são mesmo as cataratas. Começando pela origem do nome Iguaçu, que significa, em Tupi, “Água Grande”. Também pudera, as 275 cachoeiras que caem há quase 82 metros de altura tornam as quedas do Iguaçu a terceira maior do mundo em volume de água. Destaque para a “Garganta Del Diablo”, a maior delas com 700 metros de comprimento!

Mas, por traz dessa imensidão que cabe até a garganta do coisa ruim, fica escondida uma dramática história de amor. Conta a lenda dos povos originários da região que as cataratas foram formadas pela ira de um Deus, que se viu traído por seu grande amor: Naipi. Ao descobrir que a amada fugiu com o mortal Tarobá em uma canoa, o todo-poderoso “cortou” o rio Iguaçu, condenando os pombinhos a uma queda eterna. Imagem de milhões: Cataratas do Iguaçu

Etapa 2 – Braço Forte – 28/8 – Domingo

Umuarama (PR) – Presidente Prudente (SP)

DI – 20

TE – 303

DF – 213

TOTAL: 536

A história do nome “Umuarama” é um tanto inusitada. Apesar de ser uma palavra com elementos da língua Tupi, ela é um neologismo criado por um branco para dar nome a uma colônia de férias que ficava na região. Na tradução, ela significa: “lugar ensolarado para encontro de amigos”. Idílico! Mas o exato oposto do que será essa etapa que leva o nome de Braço Forte por ser uma das etapas mais difíceis de navegação da história do Sertões! Tem que dirigir com firmeza, se não…

Seguindo pelo cenário agrícola do Paraná, agora com mais destaque para os canaviais, a prova segue “na amizade” até o KM 200, onde há um ponto de abastecimento. A partir daí, a prova se transforma em um verdadeiro labirinto digno de Minotauro e a navegação vai pegar fogo. Pilotos que não escutarem atentamente o navega, vão ter uma crise na amizade entre piloto e navegador logo na segunda etapa.

É nela também que o Sertões rompe a sua primeira fronteira entre regiões, indo da região Sul para a Região Sudeste ao chegar ao Estado de São Paulo, em Presidente Prudente. E já que estamos falando em nomes, a cidade leva o nome do ex-presidente brasileiro Prudente de Moraes, sendo o primeiro civil a assumir o cargo. Mesmo assim, ficou marcado por uma campanha militar: ele foi presidente durante a Guerra de Canudos, mas isso é história para outros Sertões.

Etapa 3 – Formoso Céu – 29/8 – Segunda-feira

Presidente Prudente (SP) – Campo Grande (MS)

DI – 135

TE – 307

DF – 344

TOTAL: 786

A principal característica que dá nome a esta etapa não está nem no começo, nem no final, mas no meio! Exatamente quando o Sertões rompe mais uma fronteira de regiões, deixando a região Sudeste para entrar na região Centro-Oeste. Precisamente nessa divisa que está o ouro alaranjado da prova.

Entre o estado de São Paulo e Mato Grosso do Sul fica a ponte que passa sobre o Rio Paraná ligando os dois estados. E se você quiser ver o porquê do nome da etapa, não olhe para os lados, olhe para cima! É lá que fica uma das alvoradas mais bonitas no Brasil: um retrato do nosso Formoso Céu!

Poesia à parte, a etapa será dura, com direito a alguns elementos inusitados ao longo do percurso. A começar pela fauna. Em uma região marcada pela pecuária, as boiadas farão parte da paisagem, junto de tuiuiús e jacarés! Haverá também um laço, ou margarida, mais para a parte final da etapa em que o ponto de abastecimento e a chegada estarão no mesmo lugar! E como se não bastasse, nessa etapa há uma mudança de fuso-horário! Mas a organização decidiu pegar leve com os pilotos e vai manter o horário de Brasília para largada e chegada para não dar um nó na cabeça de ninguém!

Além do lindo céu que dá nome a etapa e as mudanças de fuso-horário que só países do tamanho do Brasil podem reservar, outros elementos da natureza vão compor a cena deste terceiro ato do maior rally do mundo. Em parte da prova, a especial margeia o lindo Rio Paraná e com os pequenos lagos espalhados ao redor da estrada, começam a aparecer os “ares de Pantanal”. Mas a novela Sertões 2022 ainda está só nos seus capítulos iniciais!

Etapa 4 – Nossos Bosques – 30/8 – terça-feira

Campo Grande (MS) – Costa Rica (MS)

DI – 64

TE- 382

DF – 31

TOTAL: 477

“Um campo grande ê, um campo grande êê”. Apesar de parecer, a música dos Novos Baianos não se refere à cidade em que larga a quarta etapa do maior rally do mundo. Enquanto a música festiva fala de um bairro de Salvador, a história desta cidade começa de uma maneira muito menos alegre.

Seus primeiros moradores eram habitantes do triângulo mineiro, fugidos da Guerra do Paraguai. Mas o que estes refugiados viram ao chegar no “Campo Grande de Vacaria” em 1870, reflete também o presente e o nome dado a esta etapa, um lugar de terras férteis onde “Nossos Bosques têm mais vida”.

Já para os competidores, o importante nesta especial será “não marcar toca”, já que se trata de uma especial em três atos distintos e desafiadores. A prova começa com muitas erosões e mata-burros que vão testar os estômagos dos rallyzeiros. Após o primeiro abastecimento, ela entra numa região onde se torna uma prova travada, de menor velocidade. Após o segundo abastecimento, ela se torna rápida! Mas vai se dar mal quem pisar fundo sem atenção, pois as lombas voltam ao cenário para produzir os saltos que amamos ver!

E é falando em salto que chegamos em uma maravilha escondida bem no final da especial. Já próximo da cidade de Costa Rica fica o desconhecido de muitos brasileiros Salto do Sucuriú, uma série de cachoeiras de até 64 metros de altura, como o “Salto Majestoso” e o “Saltinho” que fecham a especial com lindas imagens.

Este texto poderia acabar aqui, com a visão incrível do salto pantaneiro, mas ainda cabe um pouco da história informal do Sertões quando o assunto é Costa Rica, pois é nessa cidade que reside uma das figuras mais carismáticas da Família Sertões. Ao chegar lá, pergunte à equipe técnica autointitulada “Mad Max” por Vitão. Irão encontrar um sorriso de orelha a orelha e, com sorte, um churrasco.

Etapa 5 – Margens Plácidas – 31/8 – Quarta-feira

Costa Rica (MS) – Barra do Garças (MT)

DI – 87

TE – 527

DF – 23

TOTAL: 637

Se você visitar alguns trechos da quinta especial do maior Sertões da história na época “errada”, você não conseguirá ver as estradas. Isso porque, na época da cheia, elas ficam inundadas pela grande quantidade de rios e afluentes que cortam as pequenas vias vicinais que serão caminho das máquinas do rally. Mas é em Agosto, época de seca que elas dão as caras, sem deixar de apresentar pequenos lagos e poças ao longo do percurso que formam as Margens Plácidas ao redor da prova.

Mas de “plácida” esta etapa não tem nada! Será a maior especial da edição 2022 e exigirá muita estratégia das equipes que quiserem triunfar ao final da especial. Isso porque, dos três pontos de abastecimento da prova, somente dois deles serão acessíveis para as equipes de apoio. Na prática, isso significa que equipes menores terão de se unir (uma levando combustível para a outra) para evitar as panes secas.

O roteiro já foi desenhado para ser duro, mas a natureza também contribui para deixar a prova mais desafiadora. Para escoar as águas da cheia, as estradas são repletas de lombas e pequenas travessias de rios que podem desestabilizar pilotos experientes em uma prova tão longa e exaustiva como esta.

Mas água mole em pedra dura, tanto bate até que fura. Após tantos desafios, o final da especial brinda os competidores com a linda visão do cânion do Rio Café, um pequeno cânion incrustado nas terras do Mato Grosso seguida de um trecho de um chapadão de areia que termina com o encontro do Rio Garças com o rio Araguaia.

Após essa pequena maratona, a prova chega em Barra do Garças, a cidade que fica entre estes dois rios. Aparentemente uma cidade pequena nos dias de hoje, mas Barra do Garças já ostentou um título invejável! Até 1948, com 273 quilômetros quadrados, Barra do Garças era o maior município do mundo!

Etapa 06 – Não foge à luta. – 1/9 – Quinta-feira

Barra do Garças (MT) – São Félix do Araguaia (MT)

DI – 67

TE – 523

DF – 92

TOTAL: 682

Se têm uma palavra que pode resumir a sexta etapa do maior Sertões da história, de cabo a rabo, essa palavra é: luta! A começar por onde ela termina. São Félix do Araguaia leva esse nome porque o povoado foi fundado após uma batalha entre os índios Xavantes e os brancos invasores, que buscavam um futuro melhor a beira do Araguaia e o santo, São Félix, era tido como o padroeiro da luta pela terra. Pelo nome, infelizmente, sabemos quem venceu.

História brasileira à parte, quase um século depois, o espírito de batalha segue vivo nesta que será uma das maiores especiais da história do Sertões! Serão 523 quilômetros contra o relógio! Noves fora, é por isso que aqueles que se aventuram nessa especial são os filhos da família Sertões que, definitivamente, “Não fogem à luta”.

Como se não bastasse a distância, a sexta especial será também a primeira “perna” da primeira de duas maratonas no maior rally do mundo. Ah! Etapa maratona é quando os competidores fazem duas especiais em sequência sem poder contar com apoio mecânico.

Do ponto de vista técnico o bicho é brabo também com muitas DEPs (Abreviação de Depressão de Poça Seca) e estradas muito estreitas,

Ao longo dos intermináveis quilômetros, a especial margeia o lendário Rio Araguaia entrando em uma região com “cara de pantanal” mesmo! Durante o percurso, não será raro ver onças e jacarés passeando junto das máquinas do rally. Como se podia esperar de uma especial como essa, ainda não acabou: em seu final ainda existe uma travessia de balsa. Neste dia os veículos devem chegar à noite!

Não sabemos se com todos esses desafios, a sexta etapa será a “queridinha” dos pilotos, mas podemos dizer que a região de São Félix do Araguaia encantou dois dos mais icônicos presidentes do Brasil. São Félix era parada obrigatória de Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek. O primeiro inaugurou uma base da FAB por lá e o segundo foi além e construiu um luxuoso hotel para impulsionar a região, o hoje em ruínas, Hotel JK.

Etapa 7 – Filhos deste solo – 2/9 – Sexta-feira

São Félix do Araguaia (MT) – Palmas (TO)

DI – 13

TE – 143

DF – 425

TOTAL: 581

Você já deve ter sido impactado por uma icônica imagem em que um indígena de uma tribo isolada é flagrado por um drone e, acuado, lança uma flecha no aparato tecnológico. Pois bem, essa imagem aconteceu em algum lugar da Ilha do Bananal, a maior ilha fluvial do mundo e principal região da sétima especial do Sertões, que encerra o Sertões Sul e a primeira metade do maior rally do mundo.

É baseada nesta força e resistência características dos povos originários do Brasil que intitulamos esta etapa de “Filhos deste solo”. Afinal, são eles os primeiros e mais legítimos habitantes e guardiões do nosso país. Por questões óbvias, a etapa não passa pelas quinze aldeias indígenas que se entranham pela gigantesca ilha, entre elas, a aldeia dos Avá Canoeiros, que rejeitam qualquer contato com os brancos e onde vive o flechador de drones famoso internacionalmente.

Mas, é preciso salientar uma triste realidade. Engana-se quem pensa que todas as tribos da Ilha do Bananal são como os Avá-Canoeiros. Devido a constante e histórica exploração pelos povos brancos, muitas dessas tribos estão perdendo sua essência e estão mergulhadas na pobreza e no vício em drogas. Trazendo para nós que iremos contar essa história “para o mundo”, a responsabilidade de enaltecer as ricas tradições dos nossos povos originários.

Responsabilidade é o que os competidores também deverão ter nesta etapa, que será a segunda perna da primeira maratona do maior rally do mundo. Após andarem mais de 500 KM quilômetros na etapa anterior, eles terão de cuidar do equipamento em uma especial inédita e cheia do temido “areião” para finalmente receber o apoio de seus mecânicos, que não puderam ajudar anteriormente.

A etapa sete, que será uma das mais bonitas desta edição histórica do Sertões, termina na cidade de Palmas, capital do Tocantins, mesmo que os competidores cheguem a ser aplaudidos por superarem a enorme maratona, não é daí que vem o nome da cidade. Palmas evoca a principal cidade do movimento separatista da região, a Vila da Palma.

Uma das cidades mais novas do Brasil, Palmas existe há apenas 33 anos, quando foi promulgada, na constituinte de 1989, a criação do estado do Tocantins após décadas de um movimento separatista que lutava pela autonomia da região em relação ao estado de Goiás.

Vai, novinha!

Descanso: CBMM Day – 3/9 – Sábado

Dia de descanso, que é obrigatório por questões de regulamentos internacionais pela

quantidade de Kms rodados em sequência. O dia é patrocinado pela CBMM e terá como

ponto alto uma apresentação da Esquadrilha da Fumaça.

Etapa 8 – Impávido Colosso – 4/9 – Domingo

Palmas (TO) – Mateiros (TO)

DI – 98

TE – 423

DF – 0

TOTAL: 521

Ah! O Jalapão! O maior Sertões da história não poderia deixar de passar por um de seus mais icônicos cenários. O “Impávido Colosso” de mais de 150 hectares volta à cena para inaugurar o Sertões Norte e a primeira parte da segunda maratona consecutiva do maior rally do mundo!

Temido por muitos, o gigantesco colosso do norte faz jus a sua fama de mau. Nas areias do Jalapão se ganha e se perde títulos e para ser o “bicho papão do Jalapão” é preciso muita técnica, raça e um certo instinto de sobrevivência para passar ileso. Não à toa, em 2008, os produtores americanos da série “Survivor” escolheram o Jalapão para fazer a sua única edição em terras brasileiras.

Mesmo sendo figurinha carimbada para competidores, os diretores técnicos do Sertões irão fazer rotas inéditas, no que pode ser intitulado como o “the best of Jalapão”. A especial começa já com uma travessia de rio, o Rio Prata, e finalmente segue pelas areias de “deserto do Jalapão”, que, apesar de ser intitulado com este nome, faz parte de uma área classificada geologicamente como um oásis.

Depois de quase 500 quilômetros de prova, em sua maior parte no temido areião, os competidores chegam até Mateiros, a menor cidade que o Sertões passa em 2022, com aproximadamente 2.000 habitantes – mesmo número de pessoas que compõem a caravana do rally – e lá vão encontrar mais um parque fechado, onde os pilotos não terão apoio de suas equipes na manutenção dos carros. A pergunta que fica é, quais pilotos vão encontrar um oásis no final e quais ficarão só na miragem?

Etapa 9 – Povo Heroico – 5/9 – Segunda-feira

Mateiros (TO) – Bom Jesus do Piauí (PI)

DI – 0

TE – 409

DF – 101

TOTAL: 510

A nona etapa do maior rally do mundo será a última parte de uma série de duas maratonas consecutivas! Ainda rasgando o Jalapão, o Sertões avança sobre mais uma região do Brasil. Saímos do Norte e vamos para o Nordeste. Depois de um trecho somado de mais de 900 quilômetros, temos que ser honestos: o povo que sobrar pode ser considerado um “Povo Heróico”.

Ou seja, esses heróis começam a brincadeira ainda no Jalapão, que não é fácil pra ninguém, segue sentido Maranhão onde descerão uma serra extremamente sinuosa e estreita para completar o feito heróico em estradas muito estreitas de areia. Mais uma vez, os navegadores vão ter que “salvar o dia” como um super herói!

Etapa 10 – És belo, és forte – 6/9 – Terça-feira

Bom Jesus do Piauí – Bom Jesus do Piauí

DI -0

TE – 329

DF – 0

TOTAL: 329

Tesouro à vista! É nesta décima etapa que fica uma das maiores “descobertas” do Sertões: o “Belo e Forte” Cânion do Viana! Com uma paisagem que poderia ser de um outro planeta que não a terra, seus paredões de rochas enormes e multicoloridas que já deram guarida à povos indígenas fugindo da seca, amplificam ainda mais o barulho dos motores de competidores do Sertões devido a sua acústica.

A etapa é na forma de um laço ou “margarida” que sai e chega no mesmo lugar: a cidade de Bom Jesus do Piauí, que tem como um de seus filhos mais ilustres Whindersson Nunes, que correu o Sertões em 2019 em sua cidade natal. Mas, assim como qualquer piloto, se o humorista voltasse para a edição deste ano iria encontrar novos desafios preparados pela equipe técnica.

Isso porque, apesar de ser uma região que o Sertões já passou recentemente, a equipe que define o roteiro do maior rally do mundo encontrou novos caminhos pelo sertão de Bom Jesus e a partir da passagem dos cânions a “pétala” que compõe a parte final da “margarida” é completamente inédita!

Ao final do “laço” estaremos de volta a Bom Jesus, que carrega uma história de fundação muito diferente da que estamos acostumados. Quando falamos da fundação de cidades brasileiras, normalmente temos padres, senhores de terra e nobres por trás das cidades. Mas a pequena Bom Jesus foi fundada por um escravo que havia sido liberto: Nicolau Barreiros, um devoto de Bom Jesus da Boa Sentença.

Etapa 11 – Terra Garrida – 7/9 – Quarta-feira

Bom Jesus (PI) – Balsas (MA)

DI – 57

TE – 219

DF – 278

TOTAL: 554

É na décima primeira etapa do maior rally do mundo que o Sertões se reencontra com as paisagens que imortalizaram o livro de Euclides da Cunha e que inspiram o nome do rally mais brasileiro de todos. Essa “Terra Garrida”, que é seca pra quem vê, mas linda para quem enxerga, que chamamos de Sertão do Brasil.

Em uma especial com muita navegação, estradas estreitas e muitas trilhas, aos poucos o visual de Grande Sertão: Veredas toma conta. Da metade para frente, ela se torna de baixa velocidade, permitindo que os competidores possam admirar os mandacarus que adornam a paisagem icônica.

Chegando em Balsas, no Maranhão, um presságio do que vem pela frente. A cidade de 100 mil habitantes conhecida pela sua grande inovação tecnológica nas lavouras do campo é atravessada pela lendária e controversa BR-230, mais conhecida como Transamazônica, cujo projeto original visava ligar o Nordeste brasileiro ao Peru e ao Equador.

Etapa 12 – Céu Profundo – 8/9 – Quinta-feira

Balsas (MA) – Imperatriz (MA)

DI – 12

TE – 156

DF – 238

TOTAL: 406

O maior Sertões da história segue sua jornada rumo ao “Portal da Amazônia”, a cidade de Imperatriz, mas até chegar lá os competidores irão encarar uma verdadeira montanha russa.

De emoções, mas também de subidas e descidas. Isso porque a etapa é repleta de serras e vales, chapadões e platôs um “sobe desce” de piçarra com areia que irá cansar até os mais experientes. De um ponto de vista otimista, são chapadões e platôs que dão sentido ao nome da etapa. Dos altos e baixos da etapa se pode ver um “Céu Profundo”.

Ao final da “montanha russa do Sertões”, a caravana chega até a cidade de Imperatriz, um polo cultural do Maranhão que leva esse nome em homenagem à imperatriz Teresa Cristina, esposa de D. Pedro II e conhecida como a “mãe dos brasileiros”. Mas, cá, entre nós, quem impera por lá é Rayssa Leal, a “fadinha do skate”, a mais jovem medalhista olímpica do Brasil.

Etapa 13 – Verde-Louro – 9/9 – Sexta-feira

Imperatriz (MA) – Paragominas (PA)

DI – 35

TE – 358

DF – 70

TOTAL: 463

Um dos mais ilustres filhos da cidade em que larga a décima terceira especial do Sertões é o PhD em Química Médica Josué Bezerra, cientista na área de biologia molecular e um dos maiores e mais renomados pesquisadores de canabinóides para uso medicinal da maconha do mundo. Mas, não é por isso que a penúltima etapa do maior rally do mundo leva esse nome.

O “Verde Louro” em questão vem do maravilhoso cenário que os competidores irão encontrar nessa especial inédita. O Sertões cruza sua última fronteira de regiões, deixando o Nordeste e retornando ao Norte em uma etapa que “rasga” uma região praticamente sem estradas no meio da Floresta Amazônica.

Iniciando em um trecho travadíssimo dentro de uma fazenda, a especial passa por uma série de travessias de pontes e passeia pelo melhor e o pior do Brasil. Se por um lado estão as milenares árvores amazônicas e sua verde exuberância, por outro se escondem estradas clandestinas de madeireiros que praticam a extração ilegal.

A especial termina na cidade de Paragominas, que conquistou sua autonomia em 1965 após uma briga legal que envolveu camponeses, empresas de terra e grileiros. O nome da cidade é isso mesmo que você pode ter pensado: uma união semântica com a abreviação de três estados brasileiros: Pará, Goiás e Minas Gerais.

Etapa 14 – Ao Som do Mar – 10/9 – Sábado

Paragominas (PA) – Salinópolis (PA)

DI – 2

TE – 126

DF – 226

TOTAL: 354

Assim como a final da copa do mundo no Brasil tem que ser no Maracanã, a final do maior rally do mundo também será. Ou, mais ou menos por aí. Isso porque a cidade de Salinópolis, até 1943, fazia parte do município de Maracanã. Independentemente do nome, esta etapa leva esse nome porque chegará “Ao Som do Mar” no litoral do Pará.

A especial que encerra o maior Sertões da história depois de cruzar o Brasil é considerada bonita e prazerosa. Depois de mais de 7.000 quilômetros puxados no limite, os competidores e competidoras merecem, né?

TOTAL: 7.202 KM

ESPECIAIS: 4.378 KM

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