O caso perturbador das freiras que estupravam crianças com crucifixo e as 300 mil vítimas

Relatório de 2.500 páginas acusa Igreja Católica francesa de acobertar abusos de padres e freiras por décadas; Papa Francisco se manifestou nesta quarta-feira (6)

Um relatório de 2.500 páginas foi publicado nesta terça-feira (5) por uma comissão independente que, após dois anos de investigação, apurou que cerca de 330 mil crianças foram vítimas de abusos sexuais dentro da Igreja Católica, na França, durante décadas.

De acordo com a denúncia, grande parte dos crimes eram cometidos por padres e freiras, que utilizavam crucifixos para estuprar as vítimas. Os abusos teriam ocorrido entre 1950 e 2020. O papa Francisco se manifestou sobre o escândalo, afirmando “enorme tristeza e vergonha”. As informações são do Daily Mail.

O relatório aponta que a “vasta maioria”, cerca de 80% das vítimas, eram meninos pré-adolescentes, com idades entre 10 e 13 anos. No entanto, muitas meninas também sofreram abusos de padres, diáconos, bispos, monges e freiras.

Além disso, a Ciase (Comissão Independente Sobre Abuso Sexual na Igreja) revelou ainda que as freiras utilizavam crucifixos para estuprar meninas ou para forçar meninos a fazerem sexo com elas.

Uma vítima chamada Marie prestou depoimento contra a Igreja. Ela relatou que foi abusada aos 11 anos e quando contou sobre o crime para os pais, eles se recusaram a acreditar que uma freira faria algo do tipo. Ela continuou sendo abusada por mais um ano.

“Ela me levava para o escritório dela, trancava a porta e fechava as cortinas. Depois me colocava no colo e fazia eu ler algumas histórias de santos, enquanto apertava o meu peito com uma mão e tirava minha calcinha com a outra. A gente usava saias, e não calças. Isso me apavorou e eu fiquei paralisada”, revelou Marie.

Outras vítimas que relataram os abusos foram Martine e Mireille, de 73 e 71 anos, respectivamente. Eles recusaram a divulgação dos sobrenomes porque muitos familiares não estão cientes dos abusos, que ocorreram quando eles ainda eram crianças.

“Isso traz muitas lembranças terríveis”, disse Martine. “Para mim, pessoalmente, tive que esperar meus pais morrerem”, relatou, afirmando que seria impossível contar o que aconteceu.

A maior parte dos abusadores que foram apurados pela comissão é de padres que já morreram. Casos antigos que envolvem pessoas ainda vivas também são investigados.

O documento foi trabalhado durante quase três anos por uma comissão que realizou investigações sobre os fatos e denúncias.

A comissão investigativa é composta por 22 advogados, médicos, historiadores, sociólogos e teólogos. Eles pedem indenização para as vítimas e ação judicial contra a igreja.

Vergonha”, diz papa Francisco

Em discurso no Vaticano nesta quarta (6), o papa Francisco se posicionou sobre o escândalo, e manifestou repúdio às práticas e à conduta da Igreja Católica ao longo dos anos.

“Eu quero expressar às vítimas minha tristeza e dor pelo trauma que eles sofreram. E também minha vergonha, nossa vergonha, pela inabilidade da Igreja por tanto tempo para colocá-los no centro de nossas preocupações. […] É uma vergonha”, afirmou.

Por fim, o pontífice convocou todos os bispos e líderes religiosos para tomarem todas as ações necessárias para que “dramas parecidos não se repitam”.

Eric de Moulins-Beaufort, presidente da Conferência dos Bispos da França, declarou que a comunidade está “horrorizada”, e o “relatório é severo”. “Vimos os números e estão além do que poderíamos imaginar”.

Fonte: ND+

Sair da versão mobile