O dia é histórico para a Polícia de Mato Grosso do Sul. Depois de décadas de acusações, considerado o grande chefe do crime organizado na fronteira, Fahd Jamil Georges, 79 anos, se entregou em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.
Segundo o secretário de Segurança Pública do estado, Antônio Carlos Videira, uma negociação foi aberta pelo Garras com a família de Fahd, para que ele se apresentasse. O advogado Gustavo Badaro diz que ele veio em aeronave ao lado de um dos filhos e ainda hoje deve entrar com pedido de prisão domiciliar por conta do estado de saúde do empresário que tem enfisema pulmonar.
Nesta manhã, equipes do Garras receberam Fahd no aeroporto Santa Maria, na zona rural da cidade. Ao chegar, por volta das 9h20, a aeronave onde o acusado estava foi levada para dentro de hangar, para impedir que a imprensa fizesse fotos do momento da prisão.
No aeroporto, amigos de Fahd acompanharam a prisão e defenderam a atitude como a melhor na atual conjuntura. “Tem que se entregar. Precisa de tratamento médico. Se ficar foragido é pior. Ele não tem que esconder nada de ninguém. Não tem prova nenhuma contra ele”, defendeu o amigo e advogado Armen Chemzariam.
Foram quatro décadas sem ser perturbado, até a Operação Omertà ser desencadeada. Muito próximo de Jamil Name, preso desde setembro de 2019, Fahd é também apontado como membro da milícia que exterminava os desafetos em Mato Grosso do Sul.
Poderoso
Conhecido como “Padrinho” ou “Rei da Fronteira” Fahd era considerado foragido, depois de mandado de prisão em decorrência da Operação Omertà.
Visto como chefão do crime organizado desde a década de 1990, a polícia sempre sustentou que ele construiu o império primeiro pelo contrabando de café e açúcar, depois no comando do tráfico de drogas e de armas
Também foi apontado como homem que chefiava a exploração da jogatina, o que o envolveu na Operação Omertà, que teve como principal alvo membros da família Name.
Antes desta segunda-feira, apenas uma vez houve notícia de prisão de Fahd, há quase 40 anos, pela Polícia Federal do Paraná.
Chamado à época de “homem de 6 milhões de dólares”, foi capturado em Campo Grande e levado à penitenciária de Ahu, em Curitiba. sob acusação de contrabando. Chegou a ser visitado pelo então senador Pedro Pedrossian, que alegou ser amigo de Fahd. Pelas relações com poderosos, logo foi solto, com liberação festejada, retrata um dos únicos registros do episódio, a edição da revista Veja de 23 de julho de 1980.
Reportagem do The Intercept mostrou que a alta cúpula do governo militar sabia quem era Fahd. Antes de viagem do presidente João Batista Figueiredo, em 21 de janeiro de 1981, o SNI preparou um dossiê que cita Fahd como alguém “desaconselhável” para o presidente se aproximar.
Os mesmos relatórios do SNI identificavam relações promíscuas com o poder. “Para que o esquema possa funcionar foi montado um processo de corrupção de autoridades e funcionários dos mais variados níveis. Todos os fatos são do conhecimento de autoridades e órgãos do governo estadual que, entretanto, não atuam devido às injunções políticas que giram em torno da questão, ou até mesmo de seu envolvimento direto no acobertamento de tais ilícitos”.
Um dos maiores do mundo
Fahd também foi condenado em 2005, por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e sonegação. Mas um dia antes do mandado de prisão, conseguiu fugir para o Paraguai. Em 2006, Fahd entrou em uma lista elaborada pelos EUA como um dos maiores traficantes de drogas do mundo.
Atualmente são três ações contra ele, uma por corrupção ativa, outra por crimes contra o sistema nacional de armas e a última pelo homicídio do chefe de segurança da Assembleia Legislativa, Ilson Martins Figueiredo, de 62 anos. O fuzilamento foi durante emboscada na Avenida Guaicurus, em Campo Grande, no dia 11 de junho de 2018.
Segundo os indícios levantados, o sargento reformado da Polícia Militar foi vítima de vingança ao sumiço do filho mais velho de Fahd Jamil, Daniel Alvarez Georges, o “Danielito”, aos 42 anos, em 2011.
Nunca se apontou culpado pelo desaparecimento de Daniel, dado oficialmente como morto só neste ano, em janeiro. Existem conjecturas de dissolução do corpo em ácido mas, de concreto, nada.
Fonte: Campo Grande News