Sete em cada 10 agentes penitenciários estão com a saúde mental abalada diante da pandemia

Levando em conta o número de agentes penitenciários, 49 mil, os testes correspondem a cerca de 12% de cobertura.

Alfabetização na Penitenciaria Central do Estado. Escola Penitenciária na unidade de progressão. Curitiba, 28/03/2019 - Foto: Geraldo Bubniak/ANPr

O sistema carcerário, que já é tenso no Brasil, ficou pior com a pandemia de coronavírus. Foi o que constatou uma pesquisa da FGV que ouviu agentes penitenciários do país inteiro. Medo. Essa é a sensação que 8 em cada 10 agentes penitenciários sentem todos os dias quando vão para o trabalho.

87% desses agentes conhecem pelo menos um colega que teve a Covid-19 e 68% conhecem pelo menos um detento na mesma situação. Ao mesmo tempo, menos da metade, 48%, recebeu equipamentos de proteção individual para trabalhar, como máscaras, e menos de um quarto, 23%, fez o teste.

Para Gabriela Lotta, uma das coordenadoras da pesquisa, esse é um cenário que pode estar escondendo o tamanho da pandemia nos presídios brasileiros. Fazer os testes também não significa melhorar a situação. Para 73% desses profissionais a resposta dos presídios nos casos em que os presos tiveram o diagnóstico confirmado, não conseguiu  isolar os doentes e a solução foi de regular a péssima.

Nos presídios da região Norte, a situação é ainda pior. Só 26% dos agentes dizem ter recebido equipamentos de proteção. São Paulo que é o estado que tem o maior sistema penitenciário do país e registra o maior número de casos de coronavírus, São Paulo testou menos de 5% dos agentes penitenciários. E essa é uma realidade que os trabalhadores precisam esconder.

Quase um terço dos profissionais afirma que sofre pressão dos gestores para não falar o que acontece.  Resultado: mais de sete, em cada 10 agentes, dizem que estão com a saúde mental abalada. Só 5% dos agentes estão recebendo apoio da instituição onde trabalham. A pesquisa ouviu 613 profissionais da polícia penal em todo o país entre os dias 15 de junho e 1º de julho.

Em nota, o Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça, disse que doou cerca de 2 milhões de mascaras descartáveis, 50 mil máscaras N95 e 87 mil testes rápidos para os estados e o Distrito Federal, que podem ser usados para os servidores do sistema penitenciário e para os presos.

Em relação ao assédio, disse que serão apuradas as possíveis irregularidades do Sistema Penitenciário Federal (SPF). Não falou sobre o problema nos estados. Sobre o estado de São Paulo, a Secretaria de Administração Penitenciária disse que vai testar todos os funcionários e que até essa quinta-feira, entre testes rápidos e PCR foram feitos 6.094 exames entre os servidores da pasta.

Levando em conta o número de agentes penitenciários, 49 mil, os testes correspondem a cerca de 12% de cobertura. A secretaria também informou que garante atendimento psicossocial contínuo para os funcionários.

Rádio Agência Nacional

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